Público - 11 Mar 03

Três Perguntas a Valadares Tavares

"Fotografar a Excelência É Muito Positivo" B.W.

PÚBLICO - No Estudo Conclui Que o "Factor Humano" É Que É Mais Determinante para o Sucesso dos Alunos. No Caso da Matemática, em Lisboa, as Escolas com Melhores Resultados São Os Colégios e Os Antigos Liceus. Aí o Factor Sócio-económico É Decisivo?

LUÍS VALADARES TAVARES - Apenas nos máximos [nas escolas com os melhores resultados] há alguma correlação, na casa dos 90 por cento, mas isso já não acontece nos mínimos. Nem sucede com os resultados dos exames de Português, onde os níveis de correlação são menores. Isso significa que, em termos médios, a influência sócio-económica é minoritária.

Essas escolas que atingem os melhores resultados a Matemática são, de facto, de elite, no sentido de desenvolverem um ensino de excelência, com alunos muito bons. Mas nos mínimos isso já não acontece.

P - Defende que as escolas com melhores desempenhos devem ser premiadas. Mas o "prémio" não deveria ser para as que não conseguem atingir esse objectivo? Não são essas que precisam de estímulo?

R - Apesar das limitações do parque escolar, dos manuais e tudo o resto, o factor humano permite fazer a diferença e é por isso que tudo o que seja fotografar a excelência é muito positivo. Porque ao nível dos outros professores e alunos vai ter um efeito de arrastamento muito grande.

Se só fotografarmos o insucesso, ficamos mais deprimidos e convencidos de que seremos um país de terceira categoria. Temos de admitir que somos capazes de ensinar e aprender tão bem como os outros; para isso, temos de ter auto-estima nacional.

P - Continua a haver sectores da sociedade cépticos em relação à avaliação.

R - Há associações e organizações que gostariam de defender a ideia de que somos todos iguais e que o que nos distingue são as funções materiais. Mas essa tese é rejeitada por este trabalho. O que faz a diferença é o factor humano. Quando observamos que há assimetrias enormes, que há escolas com resultados anormalmente baixos, perguntamo-nos: porque é que esses dados não suscitam inquéritos públicos, inspecções rigorosas?

Quando a Constituição da República Portuguesa refere a democratização das oportunidades de educação, isso não significa apenas que deve haver igualdade de oportunidades, mas também de sucesso e êxito escolar. Penso que já vitimámos tantos jovens que não podemos perder mais tempo.

O Ministério da Educação deve contratualizar com as escolas metas a que se proponham para resolver o problema do insucesso escolar. Alguma coisa tem de ser feita, porque as vítimas acabam por ser sempre as famílias com menores condições.

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