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Público - 15 Abr 03
Ministro Quer Reduzir
Vagas nas Universidades de Lisboa e Porto
O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Pedro Lynce, anunciou anteontem, nos Açores, que pretende reduzir as vagas de acesso às universidades de Lisboa e do Porto. Objectivo: "salvar" os estabelecimentos de ensino do interior do país. "A minha preocupação é retirar algumas vagas às grandes universidades, de forma a permitir equilibrar o interior", afirmou o ministro, citado pela Lusa. Pedro Lynce disse ainda que esta medida é tanto mais urgente se se tiver em conta "a redução do número de alunos do ensino secundário, que se prevê ronde os 15 por cento no próximo ano lectivo". Se as escolas do interior não forem discriminadas positivamente, considerou, correm o risco de, a médio prazo, ficar sem alunos. "Esta é a maior luta política que tenho entre mãos, porque sei que quando apresentar esta proposta às universidades de Lisboa e Porto cai o Carmo e a Trindade", reconheceu Pedro Lynce. O ministro acertou em cheio. "É uma medida completamente errada, que espero não seja tomada, uma vez que não corresponde em nada às necessidades dos estudantes e das próprias cidades", reagiu ontem o reitor da Universidade do Porto (UP). "A UP preenche 97 por cento dos lugares que põe a concurso e na maior parte dos cursos há um grande número de candidatos com boa classificação que ficam de fora", afirmou o reitor. Que não hesita em desmontar o argumento utilizado por Lynce para justificar o corte no "numerus clausus" em Lisboa e no Porto: "O ministro diz que a ideia é canalizar alunos para o interior. Recentemente, fizemos um estudo aos alunos do primeiro ano e chegámos à conclusão de que apenas dois por cento punham a hipótese de ir para o interior, no caso de não ter entrado na UP." Novais Barbosa diz ainda que a intenção do ministro só pode "resultar de algumas pressões das universidades privadas", que, desta forma, "podem conseguir angariar mais alunos". Opinião idêntica tem um professor da Universidade do Minho, que garante já estar confirmado um corte de 6,5 por cento das vagas para esta instituição: "Acredito que seja uma estratégia para resolver os problemas de alguns estabelecimentos privados", diz. Já o reitor da Universidade da Évora, uma das instituições supostamente beneficiadas pela redução de lugares nas escolas do litoral, diz ser "útil" para o país a "adopção de princípios de discriminação positiva" desde que aplicados com "sensatez e equidade". |