Público - 26 Fev 03

A Propósito da Reforma das Universidades...
Por DIOGO SOUZA MONTEIRO

Se a sociedade compreender e reconhecer o desempenho da universidade, se se convencer que tem mais a ganhar do que a perder com a existência desta, certamente mobilizar-se-á para prover os fundos necessários

No passado dia 7 de Fevereiro, o prof. John Lombardi tomou posse como reitor da Universidade de Massachusetts em Amherst (UMass), onde estou a preparar a minha tese de doutoramento. Esta universidade é pública, pelo que o seu financiamento depende em larga medida do Estado de Massachusetts. Nos últimos dois anos, as transferências do Estado têm sido substancialmente reduzidas, levando a reformas antecipadas ou despedimento de docentes e funcionários. A UMass foi fundada em 1863 e conta, actualmente, com cerca de 24 mil alunos, dos quais cerca de cinco mil doutorandos e mestrandos. A maior parte dos seus departamentos (e designadamente o de Polímeros, Engenharia Informática, Bio-informática, Biologia, Economia dos Recursos Naturais, etc...) realizam investigação de nível mundial.

O discurso do novo reitor foi, à boa maneira americana, lúcido, pragmático e mobilizador. Podia ter aproveitado a ocasião de estar rodeado de representantes do poder público para se queixar dos cortes realizados no orçamento, mas antes preferiu centrar-se em três pontos chave: dinheiro, desempenho e tempo.

Os dois primeiros estão intimamente ligados, são faces da mesma moeda. O dinheiro é necessário para pagar a melhor investigação, para contratar excelentes professores, para pagar os mais eficientes funcionários, para manter e melhorar as infra-estruturas, o dinheiro é, enfim, necessário para garantir um bom desempenho.

Mas muitas vezes o dinheiro só por si não garante qualidade, esta exige o empenho dos professores nas aulas que leccionam e na investigação a que se dedicam, o brio e zelo dos funcionários, a vontade e capacidade dos alunos, etc. É necessário que o desempenho da universidade seja visível, pelos artigos e livros publicados, pelo boa preparação dos alunos, pelos produtos e serviços que inventa e "oferece" à sociedade civil.

Só o bom desempenho justifica o investimento, do Estado ou de outros potenciais financiadores da universidade. Se a sociedade compreender e reconhecer o desempenho da universidade, se se convencer que tem mais a ganhar do que a perder com a existência desta, certamente mobilizar-se-á para prover os fundos necessários.

Então e o tempo? Este é o grande inimigo, porque todos os dias se podem perder grandes ideias, potenciais investidores, a oportunidade de reabilitar um edifício, contratar um professor de nível, etc.

Parece-me que estas ideias não são apenas aplicáveis a este lado do mundo. Numa altura em que muito se fala de mais uma reforma da universidade portuguesa e em que os cortes orçamentais estão na ordem do dia no ensino superior público, talvez seja bom pensar pragmaticamente em como atingir ou manter excelência de ensino e investigação em Portugal. Talvez fosse a altura de pensar em como essa excelência poderia atrair outras formas de financiamento (empresas, fundações, associações de antigos alunos, familiares, beneméritos, etc...). Enfim, talvez seja a altura de nos perguntarmos o que, como alunos, ex-alunos, pais, funcionários, docentes, administradores, podemos fazer pelo futuro da(s) nossa(s) universidade(s), em vez de esperar, egoística e passivamente, que alguém vele pelo seu futuro!

Amherst (EUA)

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