Expresso - 20 Dez 02

Ensino e Estatística
Henrique Monteiro
 
Há tempos, o Governo anunciou, com a pompa e circunstância próprias das grandes medidas, que o ensino obrigatório se estenderia até ao 12º Ano. Quase toda a gente concordou; na verdade, não é politicamente correcto pretender o contrário - quem o fizer arrisca-se a carregar o ónus de elitista, obscurantista ou qualquer outro adjectivo menos próprio.
 
Ontem foram conhecidos os dados de um estudo sobre a Educação entre 1991 e 2001. Ficámos a saber que 45 por cento dos jovens entre os 18 e os 24 anos não concluíram o Ensino Secundário, ou seja, o 12º Ano. Ao contrário, foram apenas cerca de 2,7 por cento os que abandonaram o ensino obrigatório (até ao 9º Ano) em 2001. De qualquer modo, e como já vem sendo costume em diversos indicadores, constatámos que, também aqui, estamos na cauda da Europa.
 
A estes dados podem somar-se outros já conhecidos: as más prestações dos estudantes portugueses na matemática e na aprendizagem da língua, a ineficácia do sistema, a má preparação com que os jovens acabam o actual 9º Ano.
 
A realidade é que o sistema de ensino, nos últimos 10 anos, ainda não conseguiu dar respostas positivas. Passar a obrigatoriedade da frequência para 12 anos pode fazer diminuir a deserção das escolas, mas terá como contrapartida menor exigência, como aconteceu quando se estendeu a obrigatoriedade do 6º para o 9º Ano.
 
A questão coloca-se, pois, na necessidade de melhorar o ensino ou de apenas melhorar as estatísticas.
 
No caso de optarmos pela segunda hipótese, alargue-se já o ensino obrigatório, ainda que os jovens saiam do 12º Ano sem saber nada de nada. E, no futuro, já se sabe - pode-se estender o ensino obrigatório até à licenciatura...