Público - 18 Fev 03

"No Final, São Os Próprios Empresários Que Vêm Buscar Os Alunos"
Por MARIA ALBUQUERQUE

Na Escola Profissional de Torredeita, em Viseu, todos os anos há uma autêntica corrida às vagas. Liliana foi para a fila às cinco da manhã. Foi atendida quase dez horas depois, mas diz que valeu a pena. As saídas profissionais são a principal razão de tanta procura. Não há desemprego entre os antigos alunos, garante o director

Muito mais do que ensinar um ofício, a Escola Profissional de Torredeita (EPT), no concelho de Viseu, incentiva os alunos a tornarem-se cidadãos activos na comunidade. Tem uma taxa de sucesso escolar de 75 por cento. O
director, Arcides Simões, acredita que é exactamente "nos tempos de trabalho" (às quartas-feiras) que reside o segredo para o sucesso.

É nessa altura, explica, que se promove a envolvência dos estudantes no meio sócio-cultural, através da sua participação em actividades lectivas obrigatórias, mas "não convencionais". "Aqui há ambientes próprios e situações com bastante interesse em que se aplicam ou exploram os próprios conteúdos programáticos." E dá exemplos: "Temos um grupo de culinária, que vai para a cozinha aprender a confeccionar refeições e doçaria. Outros aprendem jardinagem, jornalismo, artesanato ou astronomia. Há ainda o grupo da solidariedade, que visita os doentes e os idosos, nas suas casas ou na sala de convívio do lar (nestas visitas, uns fazem pintura, escultura, artesanato e outros ensinam os idosos a trabalhar com a Internet)."

Arcides Simões diz que a EPT é "magnética". Com 400 alunos e sete cursos, tem vindo a conquistar uma fama que cresce de ano para ano, provocando uma verdadeira "corrida" às vagas. Prova disso são as enormes filas que se formam durante o período de matrículas - este ano lectivo houve mesmo quem tivesse passado a noite no carro ou numa tenda para garantir lugar.

"Eu vim às 05h00 e só fui atendida às 14h45, mas valeu a pena. Estou a gostar bastante do curso e das actividades que realizamos", conta Liliana Sousa, de 17 anos, aluna de serviços comerciais.

Residente em Viseu, Liliana reconhece que o motivo que a levou a tirar um curso profissional foi "a facilidade nas saídas profissionais". "No final destes três anos, quero entrar no mercado de trabalho. Talvez vá para uma empresa." Este é aliás o objectivo de 56 por cento dos estudantes que frequentam a EPT. Apenas 11 por cento deles manifestam vontade em prosseguir estudos no ensino superior e três por cento desejam fazer outro tipo de
curso ou formação.

Agostinho quer ser comerciante

O principal motivo que os estudantes apontam para terem seguido o ensino profissional é, em 61 por cento dos casos, "ser mais fácil encontrar emprego". Um anseio sustentado pelo próprio director da EPT, que garante que "não existe desemprego entre os antigos alunos".

Arcides Simões acredita que o motivo é a forma como os cursos estão organizados e a aproximação às instituições económicas, profissionais, sociais e culturais - nomeadamente através de protocolos de cooperação para que estes possam intervir na formação dos alunos, seja através de visitas de estudo, de estágios curriculares ou na avaliação final (integrando o Júri de Prova de Aptidão Profissional). "No final, são os próprios empresários que vêm buscar os alunos à escola! Isto faz com que os estudantes se entusiasmem na elaboração dos projectos práticos e na apresentação da prova", garante o director.

Na ânsia de uma vida melhor vieram também os nove alunos timorenses que estão a frequentar a EPT. Agostinho Belo, 39 anos, conta que foi para Torredeita "para estudar português" e para aprender um ofício. A frequentar o segundo ano do curso técnico de serviço comercial, admite que gostaria de "ser comerciante". "Mas em Timor precisamos muito de todas as profissões. Por isso é muito difícil determinar o que irei fazer. Só saberei quando chegar lá, mas o curso vai ajudar", conclui Agostinho Belo.

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