Público - 20 Jan 03

Educação Ou Betão?
Cândido M. Gonçalves
Braga

Recentemente alguém lançou este desafio-interrogação. Que me parece de resposta óbvia. Se queremos um Portugal desenvolvido, solidário, sem grandes distorções sociais e onde os portugueses tenham elevada qualidade de vida, teremos que optar pela Educação. Basta ver como se vive na Suíça e na Suécia, ou como a Irlanda deu e está a dar o salto em frente. E quando falo em Educação, não me refiro em gastar muito mais dinheiro, mas em gastá-lo melhor. Aqui, como na Saúde, não é o dinheiro que resolve. Às vezes o dinheiro leva ao desperdício e ao facilitismo, impede o salto qualitativo, a exigência na qualidade.

Teremos que pensar bem que Educação queremos para os nossos filhos, que não serão apenas peças produtoras de riqueza, mas também pessoas que se sintam realizadas. E lembro que a nossa Educação não está adequada aos nossos jovens (basta ver as taxas de insucesso e de abandono); está antiquada, ultrapassada. O actual sistema não é exigente em conhecimentos nem tenta inculcar valores comportamentais - está a construir uma sociedade sem valores nem princípios, e nem sequer preocupada com a portugalidade.

Verifica-se a desvalorização dos pais no processo educativo dos filhos, como consequência da subalternização da família (o Estado deve reconhecer que não pode ter o monopólio da Educação), certos entraves à liberdade de ensino, pueril exaltação do fácil, do amoral, do passageiro, do vulgar, do medíocre e até do absurdo, a cultura do nada e do vazio.

Centra-se, o nosso ensino, no desenvolvimento da parte intelectual (e mal), esquecendo a inteligência afectiva e relacional. Enquanto a primeira pretende preparar alguém que tenha a capacidade de um ou mais desempenhos profissionais, mas nem sempre tem atenção ao que se passa à sua volta, não sabe gerir os sentimentos, as emoções e os afectos. Com o desenvolvimento da inteligência emocional pretende-se preparar pessoas capazes de lidar com o fracasso e com o sucesso, capaz de ouvir os outros, saber amar, dar e receber; alguém que sabe viver bem consigo próprio e com os outros, com capacidade de iniciativa e criativo. A inteligência espiritual ajuda a dar um sentido à vida, a criar uma noção ética da existência.

Conjugando as três, teremos pessoas que, além de saberem criar riqueza com elevada produtividade, serão mais conscientes, mais equilibradas, mais saudáveis, mais humanas, mais solidárias, mais atentas a si e aos outros.