Correio da Manhã - 16 Abr 03
ALUNOS MENOS INDISCIPLINADOS
Com a implementação da reforma, os alunos vão ter menos exames
Em declarações, ao CM, o titular da pasta da Educação David Justino, destacou a
importância de "um bom ambiente na sala de aula e em toda a escola" para levar a
bom porto a reforma curricular do ensino secundário, referindo que as indicações
que lhe chegam em relação às aulas de 90 minutos referem "uma melhoria da
indisciplina nalgumas escolas".
As aulas, recorde-se, tornaram-se mais compridas no início deste ano lectivo
para todos os graus do ensino não superior. De 60 minutos passaram para 90, uma
medida que colheu inúmeras críticas inicialmente, mas que está a ter uma
aceitação generalizada.
"Não há uma boa aprendizagem se não houver um bom ambiente", disse o ministro
referindo-se à disciplina dos alunos, mas também à necessária autoridade dos
professores na sala de aula.
"Alguma coisa está mal quando os alunos não aprendem nas aulas, mas conseguem
tirar proveito com o mesmo professor se este lhes der explicações, mesmo que ele
tenha outros explicandos", referiu David Justino.
TURMAS GRANDES
Satisfeitos estão também os professores. Segundo Rolando Silva, dirigente da
Federação Nacional dos Professores (Fenprof), o prolongamento da lição teve, de
facto, "um efeito positivo".
"A agitação prolongava-se, às vezes, por 15 minutos, até que os alunos
chegassem, tirassem a mochila e começasse a aula. Os intervalos criavam um clima
de agitação bastante grande. Com as aulas de 90 minutos as aprendizagens
melhoram e ganhou-se, sobretudo, em tempo útil", referiu o docente.
Para que as coisas funcionem a 100 por cento, porém, "é preciso investir". É
Rolando Silva quem o diz, uma vez que o prolongamento da aula implica que esta
tenha as componentes teórico e prática.
"Têm de ser dadas condições às escolas, as salas não estão preparadas para esse
efeito e há muitas estabelecimentos que não têm sequer laboratórios", disse o
docente, destacando a necessidade de se fazerem turmas mais pequenas e
desdobradas.
"Não posso levar 28 alunos para um laboratório. São precisos grupos mais
pequenos para que a qualidade seja maior", sublinhou.
Mais atentos
Apesar dos constrangimentos, os alunos parecem mesmo estar "mais atentos e
concentrados". A constatação é agora de Vítor Sarmento, dirigente da
Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), a quem chegou também a
indicação de que há uma redução da indisciplina nalgumas escolas.
"De facto, sente-se uma diminuição da agitação, embora considere que se
extrapolou muito o problema da violência nas escolas", referiu ainda Vítor
Sarmento.
REFORMA EM CIMA DA MESA
O Conselho Nacional da Educação discute hoje com o ministro da tutela a reforma
curricular do ensino secundário. A versão final do diploma já está pronta e para
ela o ministro recebeu cerca de 600 contributos durante a fase a discussão
pública. Alguns desses contributos integram os principais objectivos desta
reforma que entra em vigor no ano lectivo de 2004/05.
Pais e professores estão com algumas expectativas relativamente ao produto
final, já que só tiverem conhecimento da primeira versão, bastante crítica, de
resto. Entre as novidades do documento está a possibilidade dos alunos mudarem
de curso com mais facilidade. Com a sua implementação, os estudantes vão ter uma
carga lectiva mais reduzida, menos disciplinas específicas, uma cadeira
obrigatória na área das tecnologias e menos exames.
Manuela Guerreiro

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