O cenário mais provável das legislativas é um
governo minoritário ou de coligação instável, sem
condições de governabilidade. Isso assusta muitos,
sobretudo por causa da longa crise económica
nacional, aquela onde estávamos antes do colapso
externo e para onde voltaremos depois dele. Mas a
nossa história tende a contradizer tais temores.
Desde o 25 de Abril já vivemos três crises
financeiras graves, com endividamento explosivo e
necessidade urgente de reformas duras. A primeira, a
seguir à revolução, foi causada pelos seis governos
provisórios de 1974 a 1976; a segunda, de meados dos
anos 1980, pelos dois governos da A.D. de 1980 a
1983 e a terceira, a actual, pelos dois governos de
Guterres de 1995 a 2002. Assim devemos os três
dramas a três tipos de executivos muito diferentes:
sem representação parlamentar a primeira,
maioritários a segunda e minoritários a terceira.
A cura, pelo contrário, foi até agora sempre
conseguida por governos transitórios e instáveis,
apesar de maioritários. De facto, os planos de
estabilização com o FMI, que nos salvaram das duas
primeiras vezes, foram ambos negociados pelo PS de
Mário Soares, coligado com o CDS em 1978 e com o PSD
em 1983. Ambos os executivos constituíram soluções
improvisadas e sem condições de governabilidade.
Pelo contrário, desde o início desta terceira crise
temos tido apenas governos de maioria absoluta
sólida, três até ao momento, que apesar disso não
conseguiram resolver o problema. Assim, o próximo
governo fraco e instável até é capaz de ser a
solução que procuramos.