Pela primeira vez na história americana recente, a
campanha presidencial é interrompida por causa de
uma crise económica. Claro que John McCain, que
tomou a iniciativa (com o acordo parcial de Obama),
também tenta ganhar votos com um gesto dramático. O
eleitorado considera o Partido Republicano, e
sobretudo Bush, há oito anos no poder, culpados do
desastre e Obama está à frente nas sondagens. Nada
melhor do que uma exibição de patriotismo - a
América acima da política - para reequilibrar as
coisas. Mas não se trata só disso, tanto McCain como
Obama querem proclamar e acentuar a gravidade da
situação e não permitir que o Presidente, a três
meses de se ir embora, fabrique, como de costume,
outra catástrofe, de que um deles seria com certeza
a vítima.
O problema imediato é garantir a autorização do
Congresso para o "empréstimo" de 700 mil milhões de
dólares, com que Bush aparentemente resolveu
"salvar" o mercado financeiro. Ao contrário do que
por aí insinua, com grande gozo ideológico, uma
certa esquerda, o Congresso não está inclinado para
a "nacionalização dos prejuízos" da banca e dos
seguros. Fazer o contribuinte pagar a
irresponsabilidade dos "privados" não é uma ideia
popular. Obama pôs quatro condições. Primeira: que o
Congresso decida quem recebe quanto. Segunda: que os
beneficiários terão de pagar o que lhes derem até ao
último tostão. Terceiro: que nenhum dinheiro, sob
forma alguma (indemnizações, pensões,
gratificações), irá parar às mãos do pessoal
dirigente, responsável pela catástrofe. E quarto:
que uma nova lei de habitação compense, ou alivie,
os milhões de americanos prejudicados pelo subprime.
McCain, pelo menos no essencial, concorda com isto.
A crise não é "o fim do mundo como o conhecemos".
Mas causou estragos e, provavelmente, causará mais.
Não justifica a complacência da direita, nem o
entusiasmo da esquerda. Obama e McCain pararam a
campanha para procurar uma posição comum. Em
Portugal, esta quarta-feira, no debate da Assembleia
da República, o eng. Sócrates não achou necessário
explicar os riscos que o país corre e que medidas se
tomaram (ou não tomaram) para os diminuir ou
eliminar. A Assembleia discutiu a criminalidade e, à
saída, o eng. Sócrates lamentou brevemente a falta
de "supervisão dos mercados" e falou no horrível
pecado da "ganância". O PSD e o PP não disseram
nada. Vivemos nas nuvens.