Público  - 10 Set 08

 

Foi-se o respeito e só já resta a pena
José Bento Amaro

 

Três tiros à queima-roupa. Um homem em perigo de vida e outro que vai enfrentar uma acusação de homicídio. Um episódio (de assassinato) que, segundo as estatísticas, se repete no país uma vez a cada três dias. Mas este caso encerra uma novidade: aconteceu dentro de uma esquadra da PSP. Vítima e atirador são civis.

 

Na passada semana, dois agentes da PSP de Oeiras foram avisados, pelo comandante, que tinham de pagar o valor de uma portagem. Dias antes, acudindo a um assalto a um posto de combustíveis na A5, tiveram o desplante de, com uma viatura policial, terem passado pela Via Verde.

 

Na sexta-feira, no Tribunal de Oeiras, uma juíza mandou duas assaltantes de residências, presas em flagrante, apresentarem-se diariamente na PSP daquela localidade. Até hoje não mais foram vistas as duas mulheres (estrangeiras), que se haviam identificado com passaportes caducados e que indicaram como domicílios os endereços de dois advogados lisboetas. Sabe-se que as senhoras terão assaltado (usando uma radiografia para abrir portas) mais de uma dezena de residências em Miraflores e Oeiras.

 

Em Abril, em Moscavide, o único agente que se encontrava no interior da esquadra assistiu, estarrecido e quedo, ao espancamento de um jovem que ali procurara ajuda. Os agressores eram entre 15 a 20 indivíduos. Não houve apresentação de queixa nem tão-pouco ida ao hospital. Apenas um ajuste de contas dentro de uma esquadra, nas barbas de um polícia.

 

Estes quatro casos exemplificam aquilo de que há muito os polícias se queixam: falta de respeito por progressiva perda de autoridade. Os casos de Portimão e Moscavide demonstram que, estando ou não presente a polícia, esta não constitui entrave à prática dos crimes. Os casos da A5 e de Oeiras revelam a falta de apoio que os polícias dizem sentir por parte das chefias e do poder judicial.

 

Não é, como sucedeu no BES, ordenando à polícia que dispare contra os criminosos (uma semana antes um polícia baleara um colega) que o respeito se reconquista. De momento, a polícia, mais do que infundir respeito, está a provocar risos e, por vezes, até pena.