Portugal é o país da UE que menos tempo dedica à
língua e à Matemática Isabel Leiria
Apesar de os alunos do 2.º ciclo do básico terem um
número de horas de aulas obrigatórias mais elevado
do que a média, o currículo é mais disperso
Portugal é o país da União Europeia que, ao nível do
2.º ciclo do básico, dedica menos tempo ao ensino da
língua e da Matemática. No 3.º ciclo (7.º, 8.º e 9.º
anos) apenas a Holanda apresenta uma percentagem da
carga horária inferior.
Os dados constam do relatório da OCDE Education at a
Glance, a mais vasta compilação de dados sobre os
sistemas educativas neste espaço económico,
publicada todos os anos e ontem divulgada.
Apesar de os alunos portugueses terem, em média, um
número de horas de aulas obrigatórias no 5.º e 6.º
anos superior à OCDE e aos Estados-membros da UE 19
(dados de 2006), a verdade é que a distribuição das
disciplinas é bastante diferente (ver infografia).
Assim, se por cá a escrita, a leitura e a literatura
ocupam 15 por cento do currículo, na UE 19 e na OCDE
as médias sobem para os 25 e os 23 por cento,
respectivamente.
No caso da Matemática, a diferença é menor, mas
persiste: 12 por cento contra 16 por cento na OCDE.
As escolas irlandesas dedicam tanto tempo à
disciplina como as portuguesas. Já em Inglaterra, a
percentagem ascende aos 22 por cento.
Chegados ao 3.º ciclo, os portugueses continuam a
ter um currículo mais diversificado, com prejuízo da
Matemática e língua materna.
Já no que respeita ao ensino das línguas
estrangeiras e, sobretudo, das artes, Portugal
destaca-se por atribuir uma maior fatia do horário
escolar a estas áreas. As chamadas áreas
curriculares não-disciplinares (formação cívica,
estudo acompanhado e área de projecto) ocupam também
uma parte significativa do horário.
Quanto à organização do tempo de trabalho dos
professores, o relatório da OCDE mostra que os
docentes portugueses de todos os níveis de ensino
são os que dão mais horas de aulas e os que mais
tempo têm de permanecer nas escolas. Isto apesar de
o seu horário de trabalho global ser ligeiramente
inferior ao da média da OCDE e da União Europeia.
Salários ao nível dos ricos
Em relação aos salários, e apesar de Portugal ter um
PIB per capita baixo, as remunerações estão ao nível
de países mais ricos, constata a OCDE. Sobretudo
entre os professores no topo da carreira, que ganham
cerca de 2,5 vezes mais do que os que estão no
início da sua actividade profissional.
Outra característica evidenciada pelo Education at a
Glance prende-se com o reduzido número de alunos por
turma em Portugal que, no 1.º ciclo, fica por uma
média de 19 meninos por classe. Os autores lembram
que este indicador, por si só, não permite concluir
grande coisa, já que os estudos científicos
existentes não conseguiram mostrar uma relação
inequívoca entre turmas pequenas e maior sucesso.
O que a OCDE concluiu foi que, por causa da menor
dimensão das turmas, dos elevados salários relativos
dos professores e de um horário de trabalho global
inferior, o custo salarial por estudante do
secundário em Portugal é superior à média da OCDE em
dez pontos percentuais.
Outro indicador em que o país continua a sobressair
pela negativa traduz-se nas baixas habilitações da
população. Portugal detém mesmo o mais baixo número
da OCDE de adultos (25-64 anos) com o ensino
secundário completo: 28 por cento contra uma média
de 68 por cento. Valor idêntico só mesmo na Turquia.
Ainda assim, os peritos da OCDE destacam a enorme
evolução registada em Portugal, ao nível das
gerações mais novas. Basta ver que, entre os 25 e os
34 anos, a percentagem de jovens adultos que
completaram o secundário já é de 44 por cento. O que
não retira o país do fim da tabela, ao lado de
Brasil, Turquia e México.
No ensino superior, a disparidade é inferior, com
Portugal a bater recordes ao nível da frequência de
doutoramentos: 7,2 por cento, contra uma média da
OCDE de 2,8 por cento.