Diário de Notícias  - 09 Set 08

 

Material do 1º ciclo faz disparar despesas
Pedro Sousa Tavares

 

Educação. A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) acusa algumas escolas primárias de divulgarem listas de material lectivo recomendado que custa quatro vezes mais do que os manuais e suspeita que se estejam a reforçar os ATL à custa dos pais. Nestas páginas, o DN divulga também o cabaz de manuais escolares do 1.º ano ao 9.º, para este ano lectivo, em que se registam aumentos de 5,4% a 3,7% nos preços

 

Há escolas com listas acima dos 100 euros/aluno

 

As listas de material didáctico recomendado pelas escolas do 1.º ciclo chegam a implicar gastos "mais do que três e quatro vezes superiores" aos dos manuais. A denúncia é da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), que "desconfia" que muitos estabelecimentos estejam "a apresentar como necessário às actividades lectivas material que na realidade se destina às actividades de enriquecimento curricular (AEC)".

 

De acordo com o cabaz de preço dos livros da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (AEPL) para 2008/09, que o DN divulga nestas páginas, os manuais do 1.º ciclo vão custar este ano entre 21,26 e 28,17 euros. Uma subida de 5,5% face ao ano passado. Mas, segundo a Confap, há listas de material das escolas que chegam aos 110 euros", e incluem artigos de utilidade "lectiva" difícil de justificar.

 

"Já tivemos ocasião de denunciar alguns casos à Comissão de Acompanhamento das AEC", disse ao DN Albino Almeida, presidente da Confap. "Para que precisam por exemplo algumas escolas de pedir uma resma de papel A4 por aluno, como vimos em algumas listas? Vão gastar dezenas ou centenas de resmas num ano?", questionou. "É preciso também que os pais sejam informados pelas escolas de que não precisam de comprar o material todo de uma vez. E que há material de outros anos que podem ser reutilizados", acrescentou.

 

Outra crítica prende-se com a recomendação, para as AEC, de "artigos que os pais não devem comprar. É o caso de um livro de Inglês para o 1.º ciclo que, como é usado por algumas empresas privadas que dão apoio às actividades de enriquecimento curricular, acaba por ser recomendado aos pais pelas escolas".

 

Aos pais, a Confap deixa um alerta: "Que estejam muitos atentos ao que lhes é pedido. E que, quando concordarem em ajudar em despesas que não são obrigados a fazer, peçam para ver as contas no fim".

 

"Insensibilidade social"

 

Para a Confap, além de "abusivas", estas listas revelam "grande insensibilidade social" por parte das escolas em causa , sobretudo num ano em que foram anunciados aumentos significativos nos apoios da Acção Social Escolar para alunos carenciados, com mais de 400 mil a garantirem manuais gratuitos e muitos outros a conseguirem-nos a metade do preço.

 

"Muitos alunos vão ter os livros de graça, mas para os materiais o Estado dá até 12,5 euros", criticou. Se pensarmos em listas de material acima dos 110 euros, percebemos a dificuldade que estas representam para algumas famílias", acrescentou. "Há pais que vão poupar nos livros mas depois terão de se endividar para comprarem os materiais recomendados", criticou.

 

O DN tentou confirmar estas denúncias junto do Ministério da Educação, mas não foi possível obter resposta até ao fecho desta edição. À hora a que esta notícia foi elaborada já não era possível entrar em contacto com alguns dos estabelecimentos que integram o conselho das escolas.