Público - 27 Set 06

Movimento cívico afirma que lei permite clonagem

Carolina Reis

O movimento pró-referendo sobre a procriação medicamente assistida (PMA) afirmou ontem que a lei da PMA "abre portas" à clonagem reprodutiva. "Esta nova lei vem abrir porta ao que nos parece civilizacionalmente gravíssimo", disse Isilda Pegado, uma das mandatárias da petição. A afirmação foi feita na audiência que uma delegação do movimento teve na Comissão de Saúde da Assembleia da República, depois de ter recolhido mais de 80 mil assinaturas a favor de um referendo sobre o assunto.
O grupo considera que o ponto um artigo 36 da lei promulgada que diz: "Quem transferir para o útero embrião através de técnica de transferência de núcleo, salvo quando essa transferência seja necessária às técnicas de PMA, é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos", permite a clonagem reprodutiva. Iislda Pegado manifestou ter sido alertada para o que considera "gravissímo", pelo médico Daniel Serrão.
Mas, os partidos de esquerda com representação parlamentar têm uma interpretação jurídica contrária à do movimento. A deputada comunista Odete Santos afirmou, durante a audiência, que a lei não permite a clonagem e que pelo contrário a pune. "Não é verdade que a lei permita a clonagem reprodutiva, pelo contrário pune-a, apenas salvaguarda uma execpção que não é verdadeiramente clonagem reprodutiva", disse. Maria de Belém Roseira, deputada socialista e presidente da Comissão, afirmou também no fim da reunião que o diploma não abre caminho à clonagem.
Isilda Pegado disse ainda que o movimento vai pensar agora noutras formas de protesto como recorrer a outras instâncias, referindo-se ao Tribunal Constitucional.
O médico Gentil Martins, outro dos signatários da petição, alertou ainda para a necessidade de esclarecimento público à população sobre o assunto. "As pessoas não sabem que quando mais do que um embrião fecundado in vitro aumenta nove vezes o risco de paralisia cerebral, nem que o número de malformações congénitas das crianças nascidas através de técnicas de PMA aumenta signitivamente", afirmou.
O grupo de signatários manisfestou-se ainda contra a opinião de que estavam contra a elaboração de uma lei de PMA. "Muitos nos acusaram de não querer uma lei sobre a PMA, mas isso é falso", afirmou, peremptória, Isilda Pegado no começo da audiência.
A petição foi entregue no dia 25 de Maio na Assembleia da República, o mesmo dia em que a lei era votada na generalidade. O Presidente da República acabou por promulgá-la a 11 de Julho, o que levou a que PS, PCP e BE questionassem a admissão da petição. O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, pediu ao movimento que elaborasse um projecto lei para juntar à petição e acabou por admiti-la.
O pedido de referendo vai agora ser discutido em plenário. Mas os deputados dos partidos de esquerda consideram que este já não é o momento para a realização e discussão de um referendo. "Este processo só foi reaberto por uma decisão do presidente Jaime Gama da qual discordamos e consideramos equívoca. Pensamos que este processo não precisa de mais discussão", disse o deputado do BE João Semedo.