Correio da Manhã - 17 Set 04
Alerta -
Relatório da OCDE revela
SEM
DINHEIRO PARA PENSÕES
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Em
2015, ou seja daqui a dez anos, o sistema de Segurança
Social que assegura as reformas dos trabalhadores do sector
privado já estará deficitário, o que significa que, as
receitas serão inferiores às despesas, revela o relatório da
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico) ontem divulgado. Quanto às reformas do sector
público, pagas pela Caixa Geral de Aposentações, o regime já
está “no vermelho”.
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Segundo a
estimativa da organização que reúne as economias mais
industrializadas do mundo, o peso das pensões na riqueza
criada em Portugal aumentará 2,6 pontos percentuais até
2020, para 12,3% do PIB.
O peso das reformas dos trabalhadores do sector privado
passará para 7,3% do PIB em 2020 e as prestações pagas aos
funcionários públicos aposentados pesarão 5% da riqueza
gerada no País.
Como opções para a resolução dos problemas com o pagamento
de pensões, a OCDE aponta incentivos para aumentar a idade
de reforma, a redução da taxa anual de acumulação de
direitos.
A organização recomenda ainda a indexação das pensões à
inflação e o aumento da taxa de IRS sobre os pensionistas.
Na Saúde, as notícias do relatório também não são muito
agradáveis para os cidadãos portugueses.
Nesta matéria, a OCDE apoia as medidas legislativas dos
últimos dois anos, nomeadamente a empresarialização dos
hospitais, e preconiza um reforço da estratégia de reformas
e o aumento da eficiência do sistema.
A OCDE defende acções para “limitar a procura excessiva dos
serviços de saúde”, como o aumento das taxas moderadoras e a
racionalização dos reembolsos. Recorde-se que o
primeiro-ministro já anunciou um aumento das
comparticipações no custos da saúde, por parte dos cidadãos
com rendimentos para os pagar.
Os dados do relatório da OCDE são desvalorizados pelo
presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE),
Bettencourt Picanço: “Não têm qualquer razoabilidade”,
afirma, em declarações ao CM.
Bettencourt Picanço justifica a sua posição avançando com
dados do Eurostat, o gabinete oficial de estatísticas da
União Europeia, segundo o qual Portugal continua abaixo da
Zona Euro, da Alemanha, da França, Bélgica e da Áustria, em
termos de despesa com prestações sociais (pensões e
subsídios de desemprego): 35,4 por cento.
Na Zona Euro, os gastos com prestações sociais são de 46,2
por cento, diz Bettencourt Picanço, citando dados do
Eurostat.
Em relação à actividade económica, o relatório da OCDE, diz
que a retoma portuguesa será muito provavelmente lenta e o
crescimento do PIB deverá manter-se abaixo do potencial,
atrasando o processo de convergência face à União Europeia.
É também referido que Portugal tem um nível elevado de
despesa primária (despesa sem juros e amortização da dívida)
e que a relação entre custo e eficácia na prestação dos
serviços públicos “deixa muito a desejar”.
A organização diz que o principal desafio para Portugal é
aumentar os níveis de riqueza, o que passa por um aumento
sustentado da produtividade.
Na receita preconizada pelos peritos da OCDE fala-se de
medidas para aumentar a mobilidade da mão-de-obra,
intensificar a utilização de tecnologias de informação e das
comunicações, aumentar a eficiência da gestão e criar um
clima favorável ao investimento privado e à inovação.
METAS PARA 2005
As previsões da OCDE para 2005 da OCDE não têm grandes
divergências face às metas inscritas nas Grandes Opções do
PLano (GOP) ontem aprovadas em Conselho de Ministros. O
desemprego deverá ficar em 6,1% e prevê-se que a actividade
económica cresça 2,4%.
NÚMEROS
PENSÃO MÉDIA: 1035 EUROS
O valor médio da pensão de reforma no Estado era, em
Dezembro de 2003, de 1.035,62 euros, enquanto que o da
pensão de sobrevivência era de 339,77 euros, segundo dados
da Caixa Geral de Aposentações.
778 MIL INSCRITOS
No final de 2003 estavam inscritos na Caixa Geral de
Aposentações 778 357 pessoas e forma pagas 476.853 pensões,
das quais 355 097 referentes àaposentação/reforma e 121 756
de sobrevivênci/outras.
SECTOR PRIVADO
Quanto ao sector privado, dos cerca de 2,6 milhões de
pensionistas, apenas 247 recebem uma pensão de valor igual
ou superior a cinco mil euros, segundo dados do Instituto de
Solidariedade e Segurança Social revelados ao CM. A pensão
mais alta é de 8.395 euros (1,6 mil contos).
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Armando
Esteves Pereira / Denise Fernandes com Lusa |
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