Correio da Manhã - 30 Set 03

Ensino: discrepância de notas de frequência e exame
FAMÍLIAS QUEREM PROCESSAR DOCENTES 

A Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN) defende a penalização dos professores de disciplinas em que a discrepância entre as médias de frequência e de exame seja igual ou superior a três valores. 
 
A discrepância de notas apanhou os pais desprevenidos, diz Fernando Castro
Fernando Castro, dirigente daquela associação, que representa sete por cento das famílias portuguesas, com três ou mais filhos, e 23 por cento das crianças e jovens, não hesita em usar as palavras "fraude" e "burla" para referir-se a diferenças de dez valores, casos de alunos que passaram de 12, nota de frequência do 12º ano, para dois, obtida em exame nacional.

"O que significa isto senão uma burla, uma fraude?", quer saber Fernando Castro, criticando "os docentes que inflacionam as notas". "Bem se diz que são os maus professores que dão as melhores notas", observou ao Correio da Manhã, antes de sublinhar que "os pais foram apanhados desprevenidos" pelos desvios verificados entre as notas de avaliação contínua e as dos exames obtidas pelos filhos. Um desvio que o trabalho a partir da publicitação, pelo Ministério da Educação, dos resultados dos exames nacionais do 12.º ano permitiu confirmar.

Segundo Fernando Castro, "é inadmissível que, em certas escolas e disciplinas, se verifiquem discrepâncias superiores a três valores". Isso demonstra que "o professor dessa disciplina ou é incompetente ou é aldrabão", entende o presidente da APFN, a quem parece estranho que "nunca, ao que saiba, se tenha instaurado um processo disciplinar por este motivo".

Exoneração

A APFN não se fica pela defesa da instauração de processos disciplinares aos professores: "Há mais de 20 mil professores no desemprego. Podem os incompetentes dar lugar a outros." Fernando Castro preconizou, igualmente, a exoneração e imediata substituição dos conselhos directivos das escolas em causa e a responsabilização dos inspectores de Educação, que não se tenham preocupado com a "inflação das notas" de frequência.

Através de um comunicado, a APFN informou o Ministério da Educação acerca das propostas que defende, tal como já fizera em relação à realização de exames nacionais no 4º, 6º. 9º e 12º anos. "O Ministério tomou conhecimento, mas não faz comentários", disse fonte do mesmo.

PROPOSTA "DISPARATADA"

Ao invés, António Avelãs, dirigente da Frente Nacional de Professores (Frenprof) considerou, desde logo, "disparatada" a proposta de instaurar processos disciplinares aos professores pelos motivos indicados.

"As famílias têm o direito de tentar saber a razão da discrepância entre as notas da frequência - principalmente nos estabelecimentos de ensino privado, onde a situação é mais grave - e as do exame do 12º ano, mas é um disparate 'partir' logo para a instauração de processos disciplinares aos docentes", afirmou ao CM António Avelãs.

Aquele representante sindical entende que, antes de mais, importa "investigar porque é que ocorre uma situação de desvio entre os valores das notas de frequência e do exame", tarefa do "Ministério da Educação e das próprias escolas". 

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