Público - 27 Set 03

Antigas Escolas Técnicas de Lisboa Entre as Últimas da Tabela
Por BÁRBARA WONG

As antigas escolas técnicas da capital estão entre as que têm piores médias a nível nacional. São elas a Machado de Castro, a Afonso Domingues, a Marquês de Pombal e a Fonseca Benevides. No Porto, o panorama é um bocadinho melhor, com a Fontes Pereira de Melo e a Infante D. Henrique a surgirem a meio da tabela, em 317º e 181º, respectivamente. Será que, depois de tantas décadas passadas, persistem os estigmas que separavam os antigos liceus das escolas industriais?

"Há uma razão sociológica que tem a ver com os cursos que leccionamos", começa por dizer Manuel Moutinho, vice-presidente da Machado de Castro, que está em 582º lugar na lista que ordena as escolas em função da média obtida no conjunto das oito disciplinas com mais alunos em todo o país.

Actualmente, todas as antigas escolas técnicas oferecem cursos tecnológicos e são as famílias com mais dificuldades que optam por este tipo de ensino. Afinal, explica Moutinho, trata-se de uma formação que prepara os alunos para a entrada directa no mercado de trabalho. Tem a vantagem de, caso os jovens queiram, poderem também entrar no superior, só que a maioria não o faz. "Os nossos alunos vivem com dificuldades e querem uma formação que lhes permita ir logo trabalhar", resume o professor.

Por isso Moutinho interroga-se: como é que se pode comparar a média da Machado de Castro com a da Secundária Pedro Nunes, que só tem cursos gerais? As escolas são vizinhas, só estão separadas por um muro, mas a Pedro Nunes posiciona-se em 57º lugar. "A nossa escola nunca poderá competir com as melhores", considera.

A Marquês de Pombal, em 601º lugar no "ranking" geral, queixa-se do mesmo: o objectivo dos seus alunos não é um canudo mas um emprego. "Esta foi uma escola de referência no ensino industrial e ainda hoje as empresas nos procuram porque reconhecem a qualidade dos nossos alunos", explica Filipe Baptista, presidente do executivo. Só que a escola que outrora recebia milhares de estudantes vindos de todo o país tem hoje apenas 300 inscritos de dia.

Ensino tecnológico com pouca procura

Na verdade, ao contrário do que se passa no resto da Europa, por cá o ensino tecnológico continua a ter pouca procura, como lamenta Sofia Costa Raposo, vice-presidente da Fonseca Benevides, que ficou em 611º lugar. A responsabilidade é também dos Serviços de Psicologia e Orientação, que quando fazem os "rastreios" e detectam alunos com dificuldades encaminham-nos logo para o tecnológico, diz. Manuel Moutinho é da mesma opinião.

Outro factor que influencia os resultados destes estabelecimentos é a origem sócio-económica dos alunos. Na Fonseca Benevides, por exemplo, há cem alunos cujas famílias são consideradas carenciadas economicamente.

O mesmo sucede com muitos alunos da Afonso Domingues, que está em 599º lugar e está situada numa "zona de bairros degradados e de famílias desestruturadas", como refere Bernardete Teixeira. Muitos "alunos não sabem o que querem, o corpo docente é estável mas está envelhecido e desmotivado...", continua. Tudo isto contribui para que a escola, que lecciona sobretudo cursos tecnológicos, não brilhe nos "rankings". Se não fossem os estudantes dos cursos gerais, a posição ainda seria mais baixa, refere a professora.

Esta é também a opinião de José Manuel Teixeira, da Fontes Pereira de Melo, no Porto, colocada em 317º. São os alunos dos cursos gerais que puxam o estabelecimento de ensino para essa posição, caso contrário, "estaria provavelmente em 500". "Não é elegante dizer, mas há escolas que estão muito próximas dos colégios e também fazem a sua selecção. Nós não, recebemos de tudo, mas também temos alunos que são capazes de entrar em Medicina."

Panfletos e anúncios nos jornais

De uma forma geral, as antigas escolas técnicas têm um corpo docente estável, estão bem equipadas e até possuem laboratórios, oficinas e outros equipamentos específicos para o tipo de ensino que leccionam. Só não têm
alunos, mas esse é um mal geral.

Enquanto a Machado de Castro vive em "pré-agonia" - está previsto que em 2004 feche as suas portas -, a Fonseca Benevides luta por conquistar mais e mais estudantes. Panfletos nos carros, idas a escolas com 3º ciclo, anúncios nos jornais, um dia aberto, são campanhas que têm resultado. Em 2000/01 tinha 285 alunos; este ano, o número quase duplicou.

Noutros tempos, lembra a vice-presidente, havia "numerus clausus" para os cursos de Química e Electrónica. "Os doutorados do Instituto Superior Técnico foram nossos alunos", reforça.

A Marquês de Pombal espera integrar uma experiência do Ministério da Educação e ver valorizado o ensino tecnológico. A esperança da maioria dos responsáveis destes estabelecimentos de ensino é que a tutela aposte, de facto, no ensino tecnológico - como, de resto, tem vindo a prometer.

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