Público - 27 Set 03
"Autarcas Têm de Fazer Aposta na Educação"
Por B.W.
Três perguntas a Valadares Tavares
P - Quais são as principais conclusões do seu estudo?
R - Em todo o país continua a haver níveis de desempenho muito baixos,
sobretudo a Matemática. Continuam a verificar-se grandes assimetrias
regionais, o que mostra que a qualidade da oferta dentro do mesmo concelho
está pouco homogeneizada. E há escolas com desempenhos muito maus em
concelhos com nível sócio-económico elevado. A dispersão mantém-se
elevada.
P - No que diz respeito aos resultados mais baixos, nas duas
disciplinas, há muitos concelhos que persistem entre os piores...
R - Estou farto de diagnósticos, porque este [trabalho] é a confirmação
do que já todos sabíamos. É necessário criar uma lista prioritária de
escolas cujos desempenhos mereçam uma atenção especial por parte do
Ministério da Educação. O objectivo é compreender a sua realidade, de
maneira a corrigir o que está mal. Se isto já era prioritário no ano
passado, é ainda mais este ano porque estamos cada vez mais próximos de
uma União Europeia que vai integrar países com melhores desempenhos que o
nosso. Este défice estrutural, a Matemática, vai limitar a competitividade
e a produtividade de Portugal. Este ano ficaram mais de três mil lugares
no ensino superior por preencher nas engenharias e tecnologias, que são
áreas prioritárias.
P - A quem é que cabe intervir?
R - O problema justifica iniciativas regionais. Por exemplo, os
concelhos com piores resultados não devem estar à espera de um despacho
milagroso. Os autarcas podem alegar que o ensino secundário não está sobre
a sua alçada, mas se querem atrair população qualificada e empresas
multinacionais, então têm de fazer uma aposta na educação. Porque é que
não se criam movimentos que envolvam os municípios, associações regionais
de empresários, pais, estudantes e assim se procura transformar a
realidade? Há ainda um problema de inovação, de ir ao encontro das
expectativas dos jovens e inovar o ensino. Se não forem os próprios
concelhos a mexerem-se, vão ficando cada vez mais relegados para segundo
plano. Será essa a vontade dos autarcas? |