Público - 25 Set 03
Microsoft Acaba com 'Chat' no MSN
Por ISABEL GORJÃO SANTOS
A Microsoft vai encerrar o serviço de "chat" - ou conversação "on-line" -
que tem disponibilizado através do seu portal MSN. O encerramento deverá
ter lugar a 14 de Outubro, em 28 países, e com esta medida a empresa
pretende "proteger os utilizadores de informações não solicitadas e
proteger as crianças de comunicações 'on-line' não apropriadas".
As salas de conversação "on-line" no MSN (www.msn.com)
irão encerrar em todos os países europeus, no Médio Oriente, Ásia e
América Latina. No entanto, o MSN Chat permanecerá disponível nos Estados
Unidos, Canadá, Japão e Brasil, mas apenas para os utilizadores que
subscrevem este serviço.
"Adoptámos esta medida porque os serviços de conversação 'on-line' têm
vindo a ser, cada vez mais, mal utilizados", adiantou Judy Gibbons,
vice-presidente do MSN International, em comunicado. Para Gibbons, "esta
mudança irá aumentar a protecção dos utilizadores do MSN em relação ao 'spam'
[mensagens de correio electrónico não solicitadas] e às comunicações não
apropriadas". A iniciativa foi saudada por diversas entidades que se
dedicam ao apoio às crianças, mas houve também quem afirmasse que a
Microsoft tomou esta medida por razões de ordem económica.
Bill Gates, fundador e "chief technology officer" da Microsoft, de visita
à África Austral, afirmou ontem não ter conhecimento desta decisão da
Microsoft, "Não estou ao corrente. Quando estiver, reagirei", disse Gates
aos jornalistas em Gaborone, Botswana.
Ontem, responsáveis do portal Lycos (www.lycos.com)
consideraram esta medida "irresponsável" e adiantaram que as crianças
começarão a utilizar outros serviços de "chat" não moderados disponíveis
na Internet. Também os responsáveis do Freeserve, o principal fornecedor
britânico de acesso à Internet, referiram em declarações à AFP que se
encontram "indignados" com a medida tomada pela Microsoft, a qual
qualificam também de "irresponsável". "Conhecemos os problemas dos fóruns
de conversação 'on-line', mas fechá-los não é solução".
Contudo, Matt Whittingham, responsável do MSN no Reino Unido, adiantou em
declarações à BBC Online que esta medida não foi tomada "de ânimo leve" e
que resultou de uma análise das salas de "chat" e da falta de capacidade
para impedir as comunicações não apropriadas que aí têm lugar.
Embora encerre as salas de "chat", a Microsoft continuará a disponibilizar
o seu serviço de mensagens em tempo real, o MSN Messenger, que possibilita
aos utilizadores um maior controlo sobre as conversas e as pessoas com
quem falam. Neste caso, é o utilizador que insere numa lista de
correspondentes as pessoas de quem pretende receber mensagens
instantâneas. O interlocutor precisa de saber o endereço de correio
electrónico da pessoa a quem se dirige e de pedir permissão para integrar
essa lista de contactos.
Nos países onde as salas de "chat" do MSN não serão encerradas existirá um
moderador, presente 24 horas por dia, que controlará as comunicações menos
próprias. Noutros casos, será criado um sistema de subscrição por cartão
de crédito, que, tanto quanto possível, limitará a utilização do serviço a
adultos.
Matt Whittingham referiu que, ao analisar os serviços de "chat" do MSN,
"foram encontrados casos de pessoas com menos de 16 anos que foram
contactadas por outras que se faziam passar pela mesma idade, mas que eram
adultos à procura de menores para contactos abusivos".
Além de conversas não apropriadas com menores, estes serviços de
conversação "on-line" têm também possibilitado a recolha de endereços de
correio electrónico para a construção de listas de E-mail e posterior
envio de mensagens indesejadas. Por isso, esta iniciativa enquadra-se num
conjunto de outras medidas que a Microsoft tem adoptado contra o uso não
apropriado dos "chats". Em Abril, a empresa juntou-se à Yahoo e à AOL para
levar a cabo um conjunto de medidas contra o "spam" que agregam
tecnologia, educação e legislação.
Rob Helm, analista da Directions on Microsoft, empresa de estudos
especializada na estratégia e nos produtos da Microsoft, considerou em
declarações à Associated Press que esta medida "poderá manter os autores
de 'spam' afastados das salas de 'chat', mas é fundamentalmente uma medida
para tornar o MSN mais lucrativo, pois permitirá à empresa utilizar de
outra forma a infra-estrutura que actualmente suporta o 'chat" |