Escolas do Porto estão "um barril de pólvora",
acusa representante das associações de pais Natália Faria
Pais esbofetearam uma professora numa escola do
Cerco; na EB1 do Bonfim, um aluno feriu funcionária
A As escolas do Porto começaram o novo ano lectivo
com cerca de 100 auxiliares de acção educativa a
menos e, para o presidente da Federação das
Associações de Pais do Porto, Manuel Monteiro, esse
problema está na base das agressões dos últimos
dias: no dia 21 de Setembro, uma professora da
Escola do 1.º Ciclo do Cerco foi esbofeteada pelos
pais de um aluno; anteontem, um aluno agrediu uma
funcionária na EB1 do Bonfim com um pedaço de
madeira.
"As escolas estão, infelizmente, transformadas em
barris de pólvora. A todo o momento há agressões
porque não há funcionários que ajudem a controlar a
situação", referiu Manuel Monteiro, dizendo que,
anteontem, a Federação das Associações de Pais do
Porto (FAPP) foi chamada a duas escolas "que os pais
queriam fechar porque não têm funcionários que
assegurem o bom funcionamento das escolas".
Na Escola Secundária de António Nobre, com 850
alunos inscritos, há apenas 13 auxiliares de acção
educativa, quando, "segundo os rácios da ministra
[da Educação], devia ter menos 23", exemplificou o
presidente da FAPP. "Ainda por cima, daqueles 13
funcionários, 11 estão na casa dos 60 anos",
apontou, acrescentando que, nalgumas das escolas com
funcionários a menos, não há porteiros. Assim, "os
miúdos entram e saem da escola sem ninguém que os
controle".
O pior é quando a ausência de vigilância degenera em
indisciplina. Anteontem, na Escola EB1 do Bonfim, um
dos alunos terá pegado numa ripa de madeira e partiu
o queixo a uma funcionária. Esta teve que receber
assistência hospitalar.
Na Escola do 1.º Ciclo do Cerco, foram os pais de um
aluno que, no dia 21, esbofetearam uma professora,
supostamente por discordarem do castigo imposto ao
filho. "A professora mandou o aluno fazer qualquer
coisa, ele negou-se a cumprir a determinação, pelo
que ficou de castigo na cantina, enquanto os colegas
foram para o recreio", descreveu à agência noticiosa
Lusa o presidente da associação de pais, José
Santos. Alguém terá telefonado aos pais do aluno a
relatar o sucedido e estes, depois de vários
insultos e ameaças a professores e funcionários,
"fizeram cumprir a sua vontade, agredindo a
professora".
A docente meteu baixa médica e a Direcção-Regional
de Educação do Norte anunciou que a escola vai
avançar com uma queixa-crime contra os alegados
agressores. Entretanto, todos os pais deixaram de
poder entrar na escola. Quem for buscar o filho
passa a ter que esperá-lo à porta. "É uma medida que
se compreende, porque agressões deste tipo exigem
medidas e punições exemplares", reagiu Manuel
Monteiro. Umas semanas antes, um segurança e uma
professora da Escola EB 2,3 do Cerco - outra escola
do mesmo agrupamento, que congrega alunos do
problemático Bairro do Cerco - foram agredidos por
dois alunos que tinham sido suspensos. O caso seguiu
para o Ministério Público.