Público - 03 Out 08

 

Escolas do Porto estão "um barril de pólvora", acusa representante das associações de pais
Natália Faria

 

Pais esbofetearam uma professora numa escola do Cerco; na EB1 do Bonfim, um aluno feriu funcionária

 

A As escolas do Porto começaram o novo ano lectivo com cerca de 100 auxiliares de acção educativa a menos e, para o presidente da Federação das Associações de Pais do Porto, Manuel Monteiro, esse problema está na base das agressões dos últimos dias: no dia 21 de Setembro, uma professora da Escola do 1.º Ciclo do Cerco foi esbofeteada pelos pais de um aluno; anteontem, um aluno agrediu uma funcionária na EB1 do Bonfim com um pedaço de madeira.

 

"As escolas estão, infelizmente, transformadas em barris de pólvora. A todo o momento há agressões porque não há funcionários que ajudem a controlar a situação", referiu Manuel Monteiro, dizendo que, anteontem, a Federação das Associações de Pais do Porto (FAPP) foi chamada a duas escolas "que os pais queriam fechar porque não têm funcionários que assegurem o bom funcionamento das escolas".

 

Na Escola Secundária de António Nobre, com 850 alunos inscritos, há apenas 13 auxiliares de acção educativa, quando, "segundo os rácios da ministra [da Educação], devia ter menos 23", exemplificou o presidente da FAPP. "Ainda por cima, daqueles 13 funcionários, 11 estão na casa dos 60 anos", apontou, acrescentando que, nalgumas das escolas com funcionários a menos, não há porteiros. Assim, "os miúdos entram e saem da escola sem ninguém que os controle".

 

O pior é quando a ausência de vigilância degenera em indisciplina. Anteontem, na Escola EB1 do Bonfim, um dos alunos terá pegado numa ripa de madeira e partiu o queixo a uma funcionária. Esta teve que receber assistência hospitalar.

 

Na Escola do 1.º Ciclo do Cerco, foram os pais de um aluno que, no dia 21, esbofetearam uma professora, supostamente por discordarem do castigo imposto ao filho. "A professora mandou o aluno fazer qualquer coisa, ele negou-se a cumprir a determinação, pelo que ficou de castigo na cantina, enquanto os colegas foram para o recreio", descreveu à agência noticiosa Lusa o presidente da associação de pais, José Santos. Alguém terá telefonado aos pais do aluno a relatar o sucedido e estes, depois de vários insultos e ameaças a professores e funcionários, "fizeram cumprir a sua vontade, agredindo a professora".

 

A docente meteu baixa médica e a Direcção-Regional de Educação do Norte anunciou que a escola vai avançar com uma queixa-crime contra os alegados agressores. Entretanto, todos os pais deixaram de poder entrar na escola. Quem for buscar o filho passa a ter que esperá-lo à porta. "É uma medida que se compreende, porque agressões deste tipo exigem medidas e punições exemplares", reagiu Manuel Monteiro. Umas semanas antes, um segurança e uma professora da Escola EB 2,3 do Cerco - outra escola do mesmo agrupamento, que congrega alunos do problemático Bairro do Cerco - foram agredidos por dois alunos que tinham sido suspensos. O caso seguiu para o Ministério Público.