Tentativas de suicídio entre jovens têm vindo a
aumentar Associação pede ao Estado o reforço das medidas
de apoio à infância
As tentativas de suicídio entre os jovens têm vindo
a aumentar nos últimos anos, o que exige do Estado o
reforço das medidas de apoio à infância para os
prevenir, alertou o psiquiatra Carlos Braz Saraiva,
citado pela agência Lusa.
«Os apoios são manifestamente insuficientes. É
preciso investir muito nas crianças», sustentou,
frisando que essa é a fase da vida em que mais se
deve investir na prevenção de comportamentos
suicidários.
Em declarações à agência Lusa no âmbito das sétimas
Jornadas Sobre Comportamentos Suicidários, a
decorrer no Luso, o psiquiatra realçou que quando
esses jovens que tiveram comportamentos
para-suicidários chegam à consulta «é chocante o que
têm para dizer».
«As suas narrativas são de rejeições persistentes ao
longo do tempo. Há roturas familiares e alterações
no desenvolvimento da primeira infância», sublinhou,
exemplificando que os relatos apontam, nomeadamente,
para falta de apoio, uma vivência apenas com a mãe e
até deficiências na alimentação.
Jovens lidam mal com o sofrimento
Para Carlos Braz Saraiva, responsável da Consulta de
Prevenção do Suicídio nos Hospitais da Universidade
de Coimbra (HUC), esses jovens acabam por
desenvolver estratégias inadequadas para lidar com o
sofrimento.
«São estratégias mal adaptativas, usando o corpo
como revolta, como protagonista dessa mágoa», em
resultado de «vulnerabilidades diversas», e daí a
«importância do enfoque na família», e a
«necessidade de investir muito na criança»,
explicou.
Recorda que o primeiro estudo realizado sobre os
comportamentos para-suicidários foi realizado pela
sua equipa nos HUC, em 1996. Nesse estudo foram
analisadas as tentativas de suicídio no concelho de
Coimbra, que chegaram aos hospitais, e a conclusão
foi de que haveria em Portugal cerca de 200
tentativas de suicídio por cada 100.000
habitantes/ano.
«É um fenómeno dos jovens. Mais de metade dos casos
são de jovens», salientou, acrescentando que as
estimativas apontam para uma tendência crescente, de
mais 25 por cento actualmente, ou seja de 250 casos
por 100.000 habitantes, e com predominância nas
raparigas.
Contrariando uma ideia generalizada de que há muitos
suicídios entre jovens em Portugal, diz que apesar
de ser considerada a segunda causa de morte na
juventude, depois dos acidentes e antes das doenças
em geral, «não é tão assustadora como em outros
países europeus, como o Reino Unido».
Perfil do suicida em Portugal
O perfil do suicida em Portugal é de um homem de 45
anos, e os últimos números em Portugal, de 2005,
apontam para nove suicídios por cada 100.000
habitantes, «uma taxa global baixa» quando comparada
com outros países.
Em Portugal há um fenómeno singular, em que a Sul do
Rio Tejo o suicídio consumado é dez vezes superior
ao do norte. Pode no Alentejo atingir os 30 por
100.000 habitantes e no Minho os 3 por 100.000
habitantes.
Segundo o psiquiatra, na explicação destas
assimetrias no suicídio consumado há perspectivas
antropológicas, sociológicas, culturais e
religiosas, que têm a ver com a baixa densidade
populacional, a desertificação, a falta de
esperança, uma melancolia característica e a baixa
religiosidade no Alentejo.
As Sétimas Jornadas Sobre Comportamentos Suicidários,
organizadas pela Clínica Psiquiátrica e Consulta de
Prevenção do Suicídio dos HUC, iniciaram-se esta
sexta-feira no Luso e encerram no próximo sábado.