Pobreza aumenta entre as famílias com três ou
mais crianças
Bárbara Simões e Andreia Sanches
A desigualdade entre ricos e pobres é a maior da UE,
revela o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento
dos portugueses
A percentagem de portugueses em risco de pobreza
diminuiu ligeiramente em 2005, mas alguns agregados
viram a sua situação agravar-se. As famílias com
três ou mais crianças foram aquelas onde a proporção
de habitantes com rendimentos abaixo da linha a
partir da qual se é considerado pobre mais subiu:
era de 38 por cento em 2004, um ano depois chegou a
42 por cento.
Esta taxa de risco de pobreza regista-se já depois
das transferências sociais, como pensões ou
rendimento de inserção. Na população em geral,
passou de 20 para 19 por cento.
Os números foram ontem divulgados, pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE), a propósito do Dia
Internacional de Erradicação da Pobreza, que é
amanhã. E traduzem os resultados do Inquérito às
Condições de Vida e Rendimento, de 2005.
Os idosos e as famílias numerosas constituem os
grupos a que corresponde o maior risco de pobreza
(42 por cento). No extremo oposto encontram-se os
agregados com dois adultos e uma criança (14 por
cento) ou sem filhos (15 por cento).
A taxa de risco de pobreza representa a percentagem
de pessoas com rendimentos anuais por adulto
equivalente (tem em conta a dimensão e composição
dos agregados) inferiores a cerca de 360 euros por
mês.
Portugal é um dos dez países da Europa cuja taxa de
risco de pobreza fica acima da média europeia de 16
por cento. E mantém-se como aquele onde a
desigualdade da distribuição de rendimentos é maior.
Ainda segundo o INE, as transferências sociais
permitem reduzir significativamente (22 pontos
percentuais) a taxa de pobreza. Sem elas, 41 por
cento dos portugueses estariam abaixo da linha de
pobreza.
O presidente da Rede Europeia Antipobreza/Portugal
não estranha que o cenário não tenha mudado nos
últimos anos. "As causas da pobreza são estruturais
e em Portugal gere-se a pobreza", afirma Jardim
Moreira.
Têm sido tomadas medidas, mas o padre teme que,
nalguns casos, sejam "cosmética". Por exemplo: o
complemento solidário para idosos. A ideia é que
cada idoso tenha um rendimento mensal de 300 euros;
os mais pobres recebem um complemento que lhes
permite atingir esse patamar. "Com 300 euros o idoso
sai da linha de água, e reduz-se o número de pobres,
mas na prática não se resolve nada: os idosos
isolados continuam isolados, isto não altera a sua
estrutura de vida", diz.
O que seria então uma medida estrutural? "Benefícios
na saúde, em vez de terem de pagar taxas
moderadoras", exemplifica.
O padre Jardim Moreira teme que medidas como o
complemento para idosos não passem de "cosmética"