Público - 16 Out 07

Pobreza aumenta entre as famílias com três ou mais crianças
Bárbara Simões e Andreia Sanches


A desigualdade entre ricos e pobres é a maior da UE, revela o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento dos portugueses


A percentagem de portugueses em risco de pobreza diminuiu ligeiramente em 2005, mas alguns agregados viram a sua situação agravar-se. As famílias com três ou mais crianças foram aquelas onde a proporção de habitantes com rendimentos abaixo da linha a partir da qual se é considerado pobre mais subiu: era de 38 por cento em 2004, um ano depois chegou a 42 por cento.

Esta taxa de risco de pobreza regista-se já depois das transferências sociais, como pensões ou rendimento de inserção. Na população em geral, passou de 20 para 19 por cento.

Os números foram ontem divulgados, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a propósito do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, que é amanhã. E traduzem os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, de 2005.

Os idosos e as famílias numerosas constituem os grupos a que corresponde o maior risco de pobreza (42 por cento). No extremo oposto encontram-se os agregados com dois adultos e uma criança (14 por cento) ou sem filhos (15 por cento).
A taxa de risco de pobreza representa a percentagem de pessoas com rendimentos anuais por adulto equivalente (tem em conta a dimensão e composição dos agregados) inferiores a cerca de 360 euros por mês.

Portugal é um dos dez países da Europa cuja taxa de risco de pobreza fica acima da média europeia de 16 por cento. E mantém-se como aquele onde a desigualdade da distribuição de rendimentos é maior. Ainda segundo o INE, as transferências sociais permitem reduzir significativamente (22 pontos percentuais) a taxa de pobreza. Sem elas, 41 por cento dos portugueses estariam abaixo da linha de pobreza.

O presidente da Rede Europeia Antipobreza/Portugal não estranha que o cenário não tenha mudado nos últimos anos. "As causas da pobreza são estruturais e em Portugal gere-se a pobreza", afirma Jardim Moreira.

Têm sido tomadas medidas, mas o padre teme que, nalguns casos, sejam "cosmética". Por exemplo: o complemento solidário para idosos. A ideia é que cada idoso tenha um rendimento mensal de 300 euros; os mais pobres recebem um complemento que lhes permite atingir esse patamar. "Com 300 euros o idoso sai da linha de água, e reduz-se o número de pobres, mas na prática não se resolve nada: os idosos isolados continuam isolados, isto não altera a sua estrutura de vida", diz.

O que seria então uma medida estrutural? "Benefícios na saúde, em vez de terem de pagar taxas moderadoras", exemplifica.

O padre Jardim Moreira teme que medidas como o complemento para idosos não passem de "cosmética"