Semana da Amamentação arranca
hoje
Joana Ferreira da Costa
Alertar para as vantagens do aleitamento na primeira
hora de vida é um dos objectivos. Sábado haverá uma
onda simultânea de mulheres a amamentar
Sofia (nome fictício) decidiu há muito tempo que não
amamentaria os filhos. "Sei que é a natureza, mas
acho a amamentação um acto animalesco, além de ser
doloroso", diz a gestora de 31 anos, que acabou de
ser mãe pela primeira vez. O curso de preparação
para o parto mostrou-lhe "a importância do leite
materno para os bebés" e acabou por se convencer a
dar de mamar à filha recém-nascida nos primeiros 15
dias". Mas não irá além deste prazo.
As mulheres que decidem não amamentar ou desistem de
o fazer após os primeiros dias de vida dos filhos
baseiam-se muitas vezes em "mitos que é preciso
desmistificar", defende Lúcia Leite, responsável na
Ordem dos Enfermeiros pelas comemorações da semana
que hoje arranca. "A ideia de que o processo é
doloroso está errada", argumenta. "Há problemas com
o peito que se previnem durante a gravidez ou se
corrigem, porque normalmente resultam de uma má pega
do bebé na mama."
A estes "mitos" junta-se a ideia de "que amamentar
ou dar leite artificial é o mesmo". Nada mais
errado, provam os estudos. O leite natural contém
anticorpos e funciona como uma "verdadeira primeira
vacina", protegendo o bebé das infecções e outras
doenças (ver caixa). "É preciso ajudar as mães a
perceber que nenhum fórmula consegue reproduzir os
benefícios do aleitamento materno." Mesmo sabendo
que o leite artificial sacia o bebé durante mais
tempo e provoca maior aumento de peso, "não é o
melhor alimento".
Amamentar na primeira hora de vida pode fazer toda a
diferença, salvando a vida a milhões de bebés,
defendem os especialistas. "E não é apenas no
Terceiro Mundo. A amamentação é fundamental para a
saúde daquelas crianças no futuro", explica a
enfermeira Adelaide Órfão, responsável na
Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela organização da
semana, que tem como lema mundial o aleitamento
materno nos primeiros 60 minutos de vida.
Até domingo, a DGS organiza um conjunto de acções
pelo país para sensibilizar as famílias e os
profissionais de saúde para a importância do
aleitamento precoce. "É preciso explicá-lo às mães,
aos pais e até aos avós", diz a enfermeira Adelaide
Órfão, responsável da DGS por esta área. "Temos de
envolver toda a família neste alerta, para que
apoiem as mães, mas também possam exigir mais dos
hospitais e maternidades."
O cumprimento pelos hospitais públicos e privados
das recomendações sobre o aleitamento da Organização
Mundial de Saúde continua longe de ser prática
corrente. "As boas práticas têm de ser a regra, não
a excepção. Há muitos hospitais onde a amamentação
não é incentivada ou acarinhada, porque exige mais
profissionais e organização", alerta Lúcia Leite.
O apoio de profissionais nos centros de saúde é
essencial quando as mães vão para casa e os
problemas da amamentação se agudizam. "É fundamental
termos profissionais com formação nos centros de
saúde para dar este apoio", defende Adelaide Órfão.
Esta semana serão abertos Cantinhos de Amamentação
em 16 centros de saúde do Algarve e outros quatro na
região de Matosinhos, para "aconselhamento e apoio
domiciliário às mães". Para sábado está prevista uma
onda de amamentação simultânea em vários pontos do
país.