Público - 31 Out 06
Poupança deve ser considerada como uma despesa
regular
Rosa Soares e Pedro Ribeiro
Os números provam que o nível de poupança das
famílias
é muito reduzido.
As justificações são muitas e a falta de rotina é
uma delas
Hoje, Dia da Poupança, "mude a sua atitude perante o
dinheiro". O desafio de criar uma rotina de
poupança, "como se fosse uma despesa regular", é
deixado pela coordenadora executiva do Observatório
do Endividamento dos Consumidores. Catarina Frade
propõe que as pessoas comecem, logo no início do
mês, a retirar algum dinheiro para guardar como
poupança. E que não esperem pelo final do mês para o
fazer, porque os apelos do consumo podem reduzir o
saldo a zero.
Catarina Frade está numa posição privilegiada para
avaliar as vantagens das pequenas poupanças no
orçamento das famílias. E para realçar a importância
de criar rotinas, porque, como diz, as pessoas
poupam mais do que têm consciência, basta ver o
pagamento regular dos empréstimos à habitação.
"Trata-se de uma poupança forçada", que é encarada
exactamente como uma despesa do consumidor ou
agregado familiar.
A existência de uma "almofada financeira", mesmo que
pequena, pode fazer toda a diferença num momento de
crise ou de ruptura. Catarina Frade destaca que, do
pondo de vista psicológico, a reacção dos
consumidores perante um momento de crise financeira
é muito diferente. Nem que o montante amealhado não
dê para cobrir totalmente as necessidades ou para
sustentar a situação por muito tempo.
Mesmo assim, a procura da solução para a situação é
melhor ponderada, evitando o que acontece em muitos
casos, em que a procura desesperada de soluções
arrasta as famílias para situações muito mais
gravosas, como sejam algumas soluções de crédito
imediato, com taxas de juro muito elevadas, que
acabam por conduzir a situações de descontrolo ou de
falência total.
Nos últimos anos, a taxa de poupança em Portugal tem
vindo a diminuir. A economia tem crescido muito
pouco - e o consumo tem aumentado a taxas superiores
às do crescimento do produto interno bruto (PIB).
Como o rendimento disponível dos particulares não
tem crescido muito, a fatia devotada à poupança é
menor.
Tradicionalmente os portugueses poupavam bastante; a
partir dos anos 90, com a "explosão" do crédito à
habitação, muito do rendimento que ia para a
poupança passou a ir para a prestação mensal da
casa. Desde 2002, a taxa de poupança dos portugueses
tem caído sucessivamente. Segundo dados do Banco de
Portugal, só em 2007 é que ela deverá voltar a subir
outra vez - e mesmo aí de forma ligeira.
Porque é que os portugueses andam a poupar menos?
Primeiro, porque o seu rendimento disponível, tal
como a economia, tem crescido pouco. Depois, porque
os particulares estão cada vez mais endividados - e,
com a subida das taxas de juro no último ano, os
seus encargos com a dívida subiram. Além disso, há
que ter em conta as subidas de impostos no ano
passado e este ano, a extinção de alguns benefícios
fiscais, e o aumento acima da média europeia da
inflação. Tudo isto contribuiu para deixar menos
dinheiro para a poupança.
As crianças e a poupança
A criação de uma rotina de poupança deve envolver
toda a família. A responsável pelo Observatório do
Endividamento dos Consumidores, que está integrado
no Centro de Estudos Sociais da Faculdade de
Economia de Coimbra, deixa outro desafio, o das
famílias partilharem com os filhos as despesas do
agregado e, em simultâneo, incutir-lhes a ideia do
uso sustentável do dinheiro. E isso faz-se, por
exemplo, pelo hábito de comparação de preços ou de
desmontar as promoções, mas também a de ajudar e
acompanhar a gestão das mesadas.
Catarina Frade entende que as poupanças das famílias
e as dos aforradores mais pequenos devem ser
canalizadas para segmentos próprios - depósitos
bancários, certificados de aforro, e outros produtos
financeiros - porque o conceito de investimento
funciona como um incentivo à poupança.