O consumidor médio de electricidade vai pagar mais
5,5 euros por mês de factura com o aumento proposto
pela ERSE (Entidade Reguladora do Sector Energético)
para os clientes domésticos de 15,7% para o próximo
ano. Este aumento, que afecta a esmagadora maioria
dos consumidores - 5,3 milhões num universo global
de 5,9 milhões -, representará um acréscimo da
factura energética em termos anuais de 66 euros para
uma facturação média mensal de 35 euros.
No entanto, para famílias com maior potência
contratada e mais elevados níveis de consumo, o
encargo adicional na tarifa eléctrica pode ser muito
mais elevado e ultrapassar largamente os cem euros
anuais.
Embora já fosse antecipada, a dimensão recorde do
aumento das tarifas eléctricas para as famílias, uma
consequência do novo quadro legal para a
liberalização, causou alguma surpresa dentro do
Governo, que, soube o DN, esperava uma subida menor.
O ministro da Economia, Manuel Pinho, é para já
cauteloso e disse apenas ao DN que o Governo está a
analisar a situação. Este ano, o Ministério da
Economia alterou a legislação das tarifas para
conter fortes aumentos para as indústrias, em nome
da competitividade da economia nacional. Essa
mudança contribui para a penalização das tarifas
domésticas para 2007, que pela primeira deixam de
estar protegidas nos aumentos de preços com o tecto
da inflação prevista para esse ano.
Embora a proposta da ERSE ainda não seja definitiva,
o Conselho Tarifário dará o parecer não vinculativo
até 15 de Novembro para uma decisão em Dezembro, o
Governo tem pouca margem de manobra para contrariar
os aumentos propostos, sem introduzir alterações
profundas à legislação que define o regime tarifário
e sem pôr em causa a independência do regulador e a
liberalização do mercado (ver caixa).
Uma das opções é alargar o prazo de amortização do
défice tarifário que resultou da contenção dos
preços em 2006. A lei prevê que o défice resultante
do aumento dos custos com os combustíveis, que é de
399 milhões de euros, possa ser pago pelas tarifas
da baixa tensão ao longo de cinco anos. A ERSE optou
por transferir já um terço do défice para as tarifas
de 2007, recuperando 132 milhões de euros e deixando
para os anos posteriores 264 milhões de euros, mais
juros. O presidente da ERSE, Jorge Vasconcelos,
esclareceu que o alargamento do prazo de três para
quatro anos teria um impacto de apenas 1%. Esta
passagem, que reflecte nas tarifas o aumento dos
custos na produção de energia, tem de ser neutra
para a EDP e para a REN (Rede Eléctrica Nacional).
Opções políticas penalizam
O regulador alerta para o crescente encargo dos
custos de interesse económico geral, ou "de custos
da política energética", que resultam de opções
políticas, no aumento das tarifas eléctricas. Estes
custos, onde se incluem a subsidiação às energias
renováveis e co-geração e as rendas aos municípios
(ver página ao lado) dispararam 45% face a
2006 e atingiram os 742 milhões de euros,
representando 13,4% das tarifas de 2007.
A proposta da ERSE gerou críticas das associações de
defesa do consumidor e da indústria. A Deco, lembra
o jurista Luís Prisco ao DN, tentou sensibilizar o
Presidente da República, dirigentes políticos e a
entidade reguladora para os perigos da alteração
legislativa que veio permitir que os aumentos fossem
superior à inflação. A subida não reflecte o poder
de compra das pessoas e, num cenário em que os
portugueses têm menos poder de compra, são ainda
mais significativos.
Nos exemplos analisados pelo DN uma família de
quatro pessoas com uma potência instalada de 13,8
kVA (kilovolt ampere) e uma facturação mensal
de quase cem euros, a factura pode subir mais de 15
euros por mês e mais de 180 euros por ano. Para uma
família com sete membros e uma potência contratada
de 13,8 kVA, a factura mensal, de 260 euros pode
crescer mais de 40 euros, o que dá um agravamento
superior a 500 euros na conta durante o ano. Mesmo
para os clientes da baixa tensão com maior potência
(acima dos 20,7 kVA), em que o aumento é mais baixo
- 8,9%, uma factura mensal de 358 euros aumenta mais
de 35 euros. Estes consumidores, onde se inclui o
pequeno comércio, poderão pagar mais de 400 euros
por ano.
Para a Deco, deveria ser a indústria a pagar os
custos com as energias renováveis porque são os
maiores consumidores. Mas Luís Filipe Pereira,
presidente da associação de grandes clientes de
electricidade, realçou ao Canal de Negócios que o
acréscimo médio de 9% "só vai agravar o fosso com as
congéneres espanholas". * Com Céu Neves