Electricidade
para famílias sobe entre 8,9% e 15,7%
Ana Suspiro
As tarifas eléctricas para os clientes domésticos de
electricidade vão registar em 2007 um aumento
recorde de 15,7% para os consumidores com potência
contratada abaixo dos 20,7 kVA (kilovolt ampere).
Este universo representa cerca de 88% dos
consumidores, o correspondente a 5,3 milhões.
A proposta da ERSE (Entidade Reguladora do Sector
Energético) prevê um aumento médio das tarifas
eléctricas de 12,4%, mas os consumidores domésticos,
que até este ano estiveram protegidos de subidas
significativas pelo tecto da inflação prevista,
passam a partir de 2007 a pagar o aumento dos custos
da produção de electricidade. Mesmo assim, explicou
o presidente da ERSE, Jorge Vasconcelos, a tarifa de
baixa tensão normal para o próximo ano só reflecte
um terço do défice tarifário de 2006, de cerca de
400 milhões de euros. Se o défice, que resulta da
diferença entre os aumento de 2006 e o custo real
que deveria ter passado para as tarifas, fosse todo
recuperado no próximo ano, os preços disparavam
ainda mais, para 22,7% na baixa tensão, e 20 a 26%
para clientes industriais.
Como a ERSE optou por repercutir apenas um terço
deste défice em 2007, o correspondente a 132 milhões
de euros, foi possível conter em parte os aumentos.
Os consumidores domésticos pagam em média mais
14,4%. A baixa tensão especial vai pagar mais 7,7%,
a baixa tensão acima do 20,7 kVA irá ter aumentos de
9,3%, enquanto que a baixa tensão normal terá o
aumento mais elevado de 15,7%. Nos clientes
industriais, os aumentos variam entre os 9,3% e 9,2%
na muito alta tensão e alta tensão e os 7,2% na
média tensão. Nos Açores, a subida média é de 10,2%
e na Madeira chega aos 16,2%.
O aumento dos custos de produção de electricidade
por causa da escalada dos combustíveis (gás natural,
fuel e carvão) é uma das razões invocadas para tão
forte aumento. Os preços do fuel e do gás natural
estão 31% e 16%, respectivamente, acima do previsto
este ano. A ERSE prevê aumentos em 2007 de 39% para
o fuel e de 13% para o gás.
Custos "políticos"
O factor que acabou por pesar mais foi a forte
subida de 45% face a 2006 dos chamados custos de
interesse geral, ou de política energética, como
referiu Jorge Vasconcelos e que são exteriores ao
sistema eléctrico. Esta soma, que inclui desde as
rendas aos municípios, a convergência com as tarifas
das regiões autónomas até ao sobrecusto das
produções em regime especial da co-geração e das
eólicas (que têm tarifa mais alta), atingiu os 742
milhões de euros. Este montante representa já 13% do
preço médio do sistema público, penalizando mais as
famílias (17%).
Os domésticos foram ainda castigados pela revisão
extraordinária de tarifas em Julho. A medida do
Governo permitiu baixar os preços à indústria
transferindo a totalidade do sobrecusto com as
energias renováveis para os clientes de baixa
tensão. Embora assumindo que os preços propostos são
uma factura pesada, o presidente da ERSE justificou
a opção tarifária com a necessidade de recuperar o
mais depressa possível o défice para trazer mais
competitividade ao sector e estimular a concorrência
no mercado liberalizado. Até 2011, terá de ser
repercutido o défice remanescente de 2006, que é de
264 milhões de euros, com juros.
Apesar de tudo, Jorge Vasconcelos realça que o preço
da electricidade em 2007 será, em termos reais
(descontando a inflação), mais baixo que o pago pela
generalidade dos clientes em 1998, quando arrancou a
regulação das tarifas. A proposta para 2007 será
avaliada pelo Conselho Tarifário e a decisão das
tarifas finais será conhecida em Dezembro.