Público - 16 Out 06

Sindicatos têm um papel excessivo no debate do sistema educativo

 

Tem de haver alguma coisa a correr mal para se ter assistido àquela manifestação, ou não? Porque é que pessoas como Manuel Alegre começam a dizer que é preciso defender a escola pública?
Há dois grandes modelos de escola pública, o francês e o americano. O francês foi feito contra a hegemonia da Igreja Católica. Nos Estados Unidos, país de imigrantes, foi o instrumento da integração. Em Portugal a ideia de que escola pública é a escola do Estado onde se produz ensino laico e republicano está algo ultrapassada. Sobretudo como escola única. Temos de perceber que qualquer escola privada também presta um serviço público, mesmo sendo paga pelo aluno ou através de uma bolsa. Correspondeu à escolha do aluno e dos pais, sendo pena que no público ainda estejamos limitados pela ideia do atlas escolar que prende os alunos a determinadas escolas conforme a sua distribuição geográfica. Na minha perspectiva, não só deve desaparecer a distinção entre escola do Estado e escola privada, como mesmo na escola do Estado a família deverá ter a possibilidade de escolher a que preferir.
E do lado dos professores?
Temos de perceber que as manifestações tiveram um significado mas que não se farão as mudanças necessárias com os professores do outro lado da barricada. O que a ministra tem dito tem lógica, pelo que não penso que os professores possam colocar-se do lado do problema. Pode haver um problema de comunicação...
Isso é o argumento habitual dos políticos.
Estive na vida política e senti essas dificuldades.
O problema é então com os sindicatos? Muitos dos seus dirigentes há anos, talvez décadas, que não estão numa escola. Isso é um problema?
É. No sistema sindical português há sindicalistas de muita qualidade, mas o problema é que os sindicatos em Portugal têm um papel excessivo no debate do sistema educativo. E têm-no por haver um vazio do lado das escolas. Ninguém fala em nome delas. Quem devia falar pelas escolas eram os seus directores. Por outro lado convinha sempre ouvir as sociedades científicas, que têm uma forma muito correcta de olhar para os problemas identificando as necessidades e as prioridades.