Diário de Notícias - 14 Out 06
239 licenciaturas
em risco de perder financiamento
Ângela Marques,
Elsa Costa e Silva e João Pedro Oliveira
Há 239 licenciaturas em risco de perder
financiamento do Estado por terem ocupado menos de
vinte vagas. Terminada a segunda fase do concurso
nacional de acesso ao ensino superior, percebe-se
uma vez mais que a oferta em Portugal continua
excessivamente dispersa e desajustada da procura.
Apesar de 85% do total de novos lugares nas
universidades e politécnicos terem sido preenchidos,
a verdade é que um quinto dos 930 cursos existentes
não conseguiram ocupar sequer metade da sua
capacidade. Pior que isso: há onze formações que não
colocaram um único estudante.
Os resultados desta segunda fase estão disponíveis
desde as 00.00 de hoje na Internet em
www.acessoaoensinosuperior.pt e serão afixados
na segunda-feira. A boa notícia é que oito em cada
dez candidatos conseguiram um lugar no ensino
superior público. No conjunto das duas fases do
concurso nacional de acesso foram colocados 40 533
estudantes. Significa isto que as colocações
cresceram 7% em relação ao último concurso,
destacando-se o ensino politécnico, onde foram
admitidos mais 2183 alunos (+14,5%) que em 2005.
Contas feitas aos dados do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, os cerca de 8 300
candidatos que não tiveram sorte podem ainda tentar
a sorte nas 7 200 vagas que restaram e que serão
utilizadas numa 3.ª fase, a realizar localmente por
cada instituição.
A reforma inevitável
A regra mínima das 20 vagas ocupadas admite
excepções. Há 16 cursos protegidos pelo Estado:
metade por ser da área das Artes, a outra por lhe
ser reconhecida relevância social ou capacidade
científica excepcional. Além destes, há outros 26
que as instituições decidiram financiar por si
mesmas.
No entanto, face a estes resultados, a
racionalização de cursos deverá acentuar-se já este
ano, exigindo "um trabalho muito grande de reflexão"
no seio das instituições, garante o presidente do
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP),
Lopes da Silva, lembrando que "é preciso verificar
por que razão os jovens não escolhem determinadas
formações que são importantes para o País e que têm
emprego." O reitor lembra que há grande incidência
de desempregados em licenciados de cursos que não
têm problemas em preencher vagas. Também aqui,
porém, há boas notícias: as Ciências e Tecnologias,
área tradicionalmente deficitária, é já a que conta
com mais estudantes, representando 30% dos novos
ingressos.
Este "processo de reflexão", lembra Lopes da Silva,
até já está em curso, apontando o exemplo das
academias do Algarve e Alentejo, que estão a estudar
em conjunto um novo mapa de ofertas, fruto de um
exercício de racionalização que envolve
universidades e politécnicos.
Também Luciano Almeida, presidente do Conselho
Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos,
afirma que "os cursos que, no conjunto dos diversos
regimes, não atingirem os 20 alunos deverão ser alvo
de uma forte ponderação no sentido da sua exclusão
ou manutenção". E explica que, aos alunos que
entraram na primeira fase, em cursos com pouca
procura, já foi proposta, "por negociação directa, a
possibilidade de mudarem de curso ou estabelecimento
de ensino". Alternativa que foi posta em prática
pelas instituições que, analisando a tendência dos
últimos quatro anos, chegaram à conclusão que a
probabilidade de atingir o número mínimo era
escassa.