Diário de Notícias - 12 Out 06
Finanças de
Portugal em alto risco devido ao envelhecimento
Fernando de Sousa
Delegado em Bruxelas
A Comissão Europeia considera que a sustentabilidade
das finanças públicas em Portugal se encontra em
"alto risco" devido ao envelhecimento,
particularmente elevado, da sua população. Num
relatório, a ser divulgado hoje em Bruxelas, a
Comissão salienta que o risco, a longo prazo, para
as finanças públicas, caso não sejam tomadas
medidas, se deve ao impacto negativo dos custos com
as pensões e assistência a um segmento crescente de
idosos, enquanto a população activa se torna,
comparativamente, menos volumosa, resultando na
redução das contribuições para a assistência social.
No mesmo relatório considera-se, no entanto, que as
propostas apresentadas pelo Governo "parecem ajudar
na promoção da sustentabilidade do sistema de
pensões".
Segundo números do Eurostat, em 2050, os portugueses
com 65 anos ou mais representarão 32% da população,
em comparação com 17%, no ano passado, e 15% em
1995. A mesma estatística coloca a vizinha Espanha
na posição mais delicada, com 36% de idosos, em
2050. A média estimada dos 25 Estados membros da UE,
em 2050, é 30%. O grupo de "alto risco" inclui,
igualmente, a Grécia, a Hungria, Chipre, Eslovénia e
República Checa.
O comissário europeu dos Assuntos Monetários,
Joaquín Almunia, recomendou, numa conferência
recente, "um programa ambicioso de consolidação
orçamental" nestes países para atender a estes
desafios. Quanto a Portugal, Almunia já salientou,
no passado, a "coragem" das reformas introduzidas,
embora salientasse "riscos e incertezas".
O relatório considera que uma situação em que cada
vez mais idosos são apoiados por menos contribuintes
obriga a reduzir a dívida pública, aumentar as taxas
de emprego e melhorar a pro- dutividade, a par da
reforma do sistema de pensões, de saúde e de
assistência. Com estas medidas, acrescenta o rela-
tório, a dívida pública média, na UE, passaria, em
2050, de 63% do produto interno bruto (PIB) para
apenas 80%, em vez de 200%, se nada fosse feito.
Para responder ao desafio do envelhecimento da
população, a Comissão irá salientar que os Estados
membros precisarão de alcançar e sustentar posições
orçamentais sólidas e reduzir a dívida pública com
maior rapidez. Será salientado que a solidez
financeira gera um "círculo virtuoso de taxas de
juro reduzidas e crescimento económico estável".