Diário de Notícias
- 08 Out 06
Ser diferente
Helena Garrido
Agressões físicas, verbais, sob a forma de rumores
ou usando agora as novas tecnologias com imagens
on-line reais ou fictícias, vitimizam em regra
crianças e adolescentes que se destacam pela
diferença. Todos nós testemunhámos histórias destas
que o mundo actual amplia, pela cultura de massas
que vai dificultando a vida de quem é diferente mas
tem de conviver na escola com a maioria dos iguais.
Em Portugal a Deco admite que 7 a 10% da população
escolar é vítima deste tipo de agressões conhecido
por bullying. Uma estimativa, já que a
realidade é pouco conhecida e, em Portugal, ainda
sem meios de combate.
O DN conta hoje as histórias de crianças vítimas de
agressão nas suas escolas. O que as une é em regra
serem diferentes dos colegas, na atitude ou no
aspecto físico. Sempre foi assim, com a perseguição
ao "gordo", ao "cenourinha", ao "caixa-de-óculos" ou
ao "marrão", para citar os casos mais comuns e
inofensivos.
A diferença hoje é a minoria ser cada vez mais
minoria e a casa ser um espaço de isolamento para
muitas crianças que usam a escola ou a Internet como
universos onde conseguem fazer explodir, livres de
sanções, a violência do seu quotidiano.
Quem é diferente está hoje mais exposto à crueldade
dos seus pares que no passado. Nos espaços que
acolhem massas os "diferentes" dão mais nas vistas e
podem acabar por ser vítimas de vários grupos
integrados na multidão.
O poder dos agressores amplia-se ainda pela
desumanização dos espaços escolares, transformados
em edifícios onde as crianças se vão sentar para
aprender. Uma realidade ainda mais violenta nas
escolas públicas em locais onde se cruzam culturas e
classes sociais.
Numa rápida busca pela Internet é possível encontrar
instituições de solidariedade social que ensinam
crianças, pais e professores a lidar com este
problema. Não são obviamente portuguesas.
Em Portugal o voluntariado é uma actividade que dá
os seus primeiros passos e não é, ainda, socialmente
valorizada. E o problema da agressão nas escolas é
tratado (ainda?) com a displicência de quem pensa
estar a falar de incidentes disciplinares que
afectam espaços suburbanos.
A agressão ao "cenourinha" ou ao "caixa-de-óculos"
precisa hoje de mais atenção que no passado. Tal
como a violência nas escolas. Um dia acordamos e
descobrimos, tal como no Canadá, que chegou ao país
o vírus do solitário na multidão.