Público - 07 Out 06

Mais de um roubo a cada dois dias

Assaltos a bancos em Portugal são um crime de solitários

José Bento Amaro

Não rendem quantias avultadas, mas são
cada vez mais.
Os novos assaltantes não têm cadastro, mas enfrentam dificuldades económicas

A imagem de vários homens encapuçados e armados que irrompiam banco dentro proferindo ameaças e saíam apressados com alguns sacos de dinheiro nas mãos, por vezes disparando para intimidar eventuais perseguidores, é coisa do passado. Hoje, os assaltantes de bancos são, na sua maioria, solitários.
São homens que agem sozinhos porque sabem que o saque só por mero acaso será avultado. São, na sua maioria, pessoas economicamente carenciadas, que vislumbram neste tipo de crime uma forma rápida de solucionarem problemas familiares.
No final da década de 1990, em Lisboa, ganhou fama um homem que assaltou mais de uma dezena de bancos. Usava uma boina que quase não lhe deixava ver o rosto. De estatura franzina, quase inofensivo, chegava a um banco, escolhia uma caixa, apontava uma arma e saía com um molho de notas. Depois desaparecia a pé por uma entrada do metropolitano. Foi preso ao 12.º assalto. A pistola que utilizava não passava de um isqueiro. Tinha 60 anos e a profissão de contabilista. Roubava para pagar os estudos universitários da filha.
Hoje, embora não seja este o perfil de todos os assaltantes de bancos, são motivações de carácter financeiro e pessoal que fazem com que a maior parte dos assaltantes sejam solitários. Estes homens, de acordo com os investigadores da Polícia Judiciária (a Direcção Central de Combate ao Banditismo tem a exclusividade da investigação neste tipo de crimes), nem sequer se dão ao trabalho de preparar os assaltos com muita minúcia. Actuam, de início, com alguns cuidados e, progressivamente, vão-se relaxando, deixando cada vez mais pistas, até serem capturados.
Em muitos casos, fazem-no pela primeira vez. Os reincidentes serão poucos porque, dizem os investigadores, aprendem na cadeia que as penas que cumprem não compensam os quase sempre pequenos montantes que conseguem. É esta realidade que faz com que muitos, depois de condenados e caso voltem a roubar, prefiram as carrinhas de transporte de valores.

Mais assaltos
durante o Verão
Em 2005, em todo o país, foram assaltados 114 bancos, 26 casas de câmbio, 45 veículos de transporte de valores (ETV), sete prospectores e 25 estações dos correios, o que deu um total de 217 crimes e um acréscimo, neste tipo de delitos, comparativamente ao ano anterior, de 32,2 por cento. Na prática, só no ano passado, constatou-se que se cometeu mais de um destes crimes a menos de cada 48 horas.
Este aumento é explicado não só pelo agravamento das condições de vida - é por isso que a maior parte dos assaltantes são portugueses e solitários - mas também devido à abertura das fronteiras, que possibilita uma maior e mais fácil movimentação de pessoas. Os grupos organizados (quase sempre do Leste da Europa e também do Brasil) são, no entanto, diminutos no cômputo geral.
A par do aumento do número de assaltos a bancos e outras instituições financeiras ou de crédito, verifica-se um aumento na taxa de eficácia da resolução destes crimes. As estatísticas da Judiciária referem que, em 2004, de 147 roubos, foram resolvidos 62 casos, o que corresponde uma taxa de eficácia de 42,1 por cento, enquanto no ano seguinte esse valor subiu para 52,5 por cento (217 roubos investigados e 114 resolvidos).
O período do Verão, normalmente associado às férias, é aquele em que mais assaltos a bancos se verificam, sendo as dependências das estâncias balneares as mais visadas. Existem, no entanto, diversos casos verificados em pequenas agências do interior, onde a presença policial é mais reduzida