Assaltos a bancos em Portugal são um crime de
solitários
José Bento Amaro
Não rendem quantias avultadas, mas são
cada vez mais.
Os novos assaltantes não têm cadastro, mas enfrentam
dificuldades económicas
A imagem de vários homens
encapuçados e armados que irrompiam banco dentro
proferindo ameaças e saíam apressados com alguns
sacos de dinheiro nas mãos, por vezes disparando
para intimidar eventuais perseguidores, é coisa do
passado. Hoje, os assaltantes de bancos são, na sua
maioria, solitários.
São homens que agem sozinhos porque sabem que o
saque só por mero acaso será avultado. São, na sua
maioria, pessoas economicamente carenciadas, que
vislumbram neste tipo de crime uma forma rápida de
solucionarem problemas familiares.
No final da década de 1990, em Lisboa, ganhou fama
um homem que assaltou mais de uma dezena de bancos.
Usava uma boina que quase não lhe deixava ver o
rosto. De estatura franzina, quase inofensivo,
chegava a um banco, escolhia uma caixa, apontava uma
arma e saía com um molho de notas. Depois
desaparecia a pé por uma entrada do metropolitano.
Foi preso ao 12.º assalto. A pistola que utilizava
não passava de um isqueiro. Tinha 60 anos e a
profissão de contabilista. Roubava para pagar os
estudos universitários da filha.
Hoje, embora não seja este o perfil de todos os
assaltantes de bancos, são motivações de carácter
financeiro e pessoal que fazem com que a maior parte
dos assaltantes sejam solitários. Estes homens, de
acordo com os investigadores da Polícia Judiciária
(a Direcção Central de Combate ao Banditismo tem a
exclusividade da investigação neste tipo de crimes),
nem sequer se dão ao trabalho de preparar os
assaltos com muita minúcia. Actuam, de início, com
alguns cuidados e, progressivamente, vão-se
relaxando, deixando cada vez mais pistas, até serem
capturados.
Em muitos casos, fazem-no pela primeira vez. Os
reincidentes serão poucos porque, dizem os
investigadores, aprendem na cadeia que as penas que
cumprem não compensam os quase sempre pequenos
montantes que conseguem. É esta realidade que faz
com que muitos, depois de condenados e caso voltem a
roubar, prefiram as carrinhas de transporte de
valores.
Mais assaltos
durante o Verão
Em 2005, em todo o país, foram assaltados 114
bancos, 26 casas de câmbio, 45 veículos de
transporte de valores (ETV), sete prospectores e 25
estações dos correios, o que deu um total de 217
crimes e um acréscimo, neste tipo de delitos,
comparativamente ao ano anterior, de 32,2 por cento.
Na prática, só no ano passado, constatou-se que se
cometeu mais de um destes crimes a menos de cada 48
horas.
Este aumento é explicado não só pelo agravamento das
condições de vida - é por isso que a maior parte dos
assaltantes são portugueses e solitários - mas
também devido à abertura das fronteiras, que
possibilita uma maior e mais fácil movimentação de
pessoas. Os grupos organizados (quase sempre do
Leste da Europa e também do Brasil) são, no entanto,
diminutos no cômputo geral.
A par do aumento do número de assaltos a bancos e
outras instituições financeiras ou de crédito,
verifica-se um aumento na taxa de eficácia da
resolução destes crimes. As estatísticas da
Judiciária referem que, em 2004, de 147 roubos,
foram resolvidos 62 casos, o que corresponde uma
taxa de eficácia de 42,1 por cento, enquanto no ano
seguinte esse valor subiu para 52,5 por cento (217
roubos investigados e 114 resolvidos).
O período do Verão, normalmente associado às férias,
é aquele em que mais assaltos a bancos se verificam,
sendo as dependências das estâncias balneares as
mais visadas. Existem, no entanto, diversos casos
verificados em pequenas agências do interior, onde a
presença policial é mais reduzida