Endividamento das famílias corre risco de se
tornar insustentável
Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas
Bruxelas deixou ontem um sério aviso às famílias
portuguesas: os níveis de endividamento correm o
risco de se tornar insustentáveis
O endividamento das famílias em
Portugal e outros cinco países da zona euro corre o
risco de se tornar insustentável sobretudo num
contexto de subida das taxas de juro, alertou ontem
a Comissão Europeia.
O aviso foi lançado no relatório trimestral sobre a
situação da economia da "eurolândia", que confirma
que o crescimento da actividade atingiu o seu nível
mais forte dos últimos seis anos: 3,5 por cento em
ritmo anual no primeiro semestre, enquanto no
segundo o crescimento esteve "próximo ou mesmo
acima" do seu potencial estimado em 2 por cento.
Os serviços de Joaquín Almunia, comissário
responsável pelos assuntos económicos e financeiros,
insistem no entanto na importância dos riscos que
pesam actualmente sobre o crescimento: além do
endividamento de famílias e empresas, o relatório
cita a alta dos preços do petróleo, o aumento das
tensões geopolíticas, o endurecimento da política
monetária e os desequilíbrios globais. Em
particular, Bruxelas considera "preocupante" o nível
de endividamento das famílias resultante dos
créditos hipotecários, cuja dinâmica considera
"insustentável" em vários Estados, sobretudo num
contexto de subida das taxas de juro. Metade dos
doze membros da zona euro têm um endividamento das
famílias superior a 60 por cento do PIB (produto
interno bruto) - Portugal, Espanha, Alemanha,
Luxemburgo, Holanda e Irlanda.
Em Portugal, o valor de 70 por cento do PIB
registado em 2005, está em risco de subir para 80
por cento em 2008, segundo as extrapolações da
Comissão com base na tendência actual do crescimento
do PIB e do endividamento.
A Irlanda é de longe o país em pior posição, podendo
saltar do valor de 70 por cento do PIB actualmente,
para 120 por cento na mesma altura. Espanha e
Holanda estão a seguir, podendo sofer um agravamento
do endividamento de 70 e 80 por cento do PIB,
actualmente, para 100 por cento dentro de dois anos.
Bruxelas frisa aliás que "taxas de juro mais
elevadas terão um impacto maior nas famílias que
contraíram créditos a taxas variáveis", situação que
"tende a ser predominante em Espanha, Irlanda,
Itália, Portugal e Finlândia".
Mesmo se a situação das empresas é considerada menos
preocupante num cenário de subida dos juros, a
Comissão deixa a interrogação sobre se o nível de
consolidação do respectivo endividamento desde 1999
"foi suficiente para evitar o risco de que um
aumento abrupto dos custos de financiamento possa
prejudicar a retoma nascente do investimento na zona
euro".