Público - 03 Out 06

Endividamento das famílias corre risco de se tornar insustentável

Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas

Bruxelas deixou ontem um sério aviso às famílias portuguesas: os níveis de endividamento correm o risco de se tornar insustentáveis

O endividamento das famílias em Portugal e outros cinco países da zona euro corre o risco de se tornar insustentável sobretudo num contexto de subida das taxas de juro, alertou ontem a Comissão Europeia.
O aviso foi lançado no relatório trimestral sobre a situação da economia da "eurolândia", que confirma que o crescimento da actividade atingiu o seu nível mais forte dos últimos seis anos: 3,5 por cento em ritmo anual no primeiro semestre, enquanto no segundo o crescimento esteve "próximo ou mesmo acima" do seu potencial estimado em 2 por cento.
Os serviços de Joaquín Almunia, comissário responsável pelos assuntos económicos e financeiros, insistem no entanto na importância dos riscos que pesam actualmente sobre o crescimento: além do endividamento de famílias e empresas, o relatório cita a alta dos preços do petróleo, o aumento das tensões geopolíticas, o endurecimento da política monetária e os desequilíbrios globais. Em particular, Bruxelas considera "preocupante" o nível de endividamento das famílias resultante dos créditos hipotecários, cuja dinâmica considera "insustentável" em vários Estados, sobretudo num contexto de subida das taxas de juro. Metade dos doze membros da zona euro têm um endividamento das famílias superior a 60 por cento do PIB (produto interno bruto) - Portugal, Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Holanda e Irlanda.
Em Portugal, o valor de 70 por cento do PIB registado em 2005, está em risco de subir para 80 por cento em 2008, segundo as extrapolações da Comissão com base na tendência actual do crescimento do PIB e do endividamento.
A Irlanda é de longe o país em pior posição, podendo saltar do valor de 70 por cento do PIB actualmente, para 120 por cento na mesma altura. Espanha e Holanda estão a seguir, podendo sofer um agravamento do endividamento de 70 e 80 por cento do PIB, actualmente, para 100 por cento dentro de dois anos.
Bruxelas frisa aliás que "taxas de juro mais elevadas terão um impacto maior nas famílias que contraíram créditos a taxas variáveis", situação que "tende a ser predominante em Espanha, Irlanda, Itália, Portugal e Finlândia".
Mesmo se a situação das empresas é considerada menos preocupante num cenário de subida dos juros, a Comissão deixa a interrogação sobre se o nível de consolidação do respectivo endividamento desde 1999 "foi suficiente para evitar o risco de que um aumento abrupto dos custos de financiamento possa prejudicar a retoma nascente do investimento na zona euro".