Baixaria
Francisco Sarsfield Cabral
As fracas audiências de alguns reality
shows da SIC levaram à saída do director
de programas da estação. O novo director já
acabou com um deles. Tratando-se de um
programa nada dignificante, é uma boa
notícia. Mas há mais segundo o DN de 30 de
Setembro, vários anunciantes recusaram
associar as suas marcas de vestuário, de
móveis, de automóveis, etc., a um outro
reality show não menos degradante que
permanece em antena.
Reacção semelhante tiveram há anos, em
França, algumas empresas de prestígio,
quando apareceu o Big Brother e
congéneres. Já este ano, no Brasil,
importantes empresas aderiram à campanha
"Quem financia a baixaria é contra a
cidadania". Uma campanha que pretende banir
da televisão brasileira a violência gratuita
e o sexo em doses maciças. Justificou o
director da cervejeira Kaiser "O mercado de
cervejas não é sustentável se as empresas
não adoptarem políticas de responsabilidade
social" (Público, 27-02-05).
Não sou ingénuo sei que as mudanças na SIC e
as recusas dos anunciantes não decorrem de
elevadas considerações morais. E que muita
porcaria tem grandes audiências. A SIC mudou
porque estava a cair nas audiências e é
destas que dependem as receitas de
publicidade. A relutância de certas empresas
em verem a sua imagem associada ao telelixo
resulta de estratégias de marketing.
Só que tais decisões apontam, em última
instância, para a atitude dos
telespectadores se uma parte considerável
destes rejeita programas degradantes, eles
desaparecem do pequeno ecrã. Para combater o
telelixo não aceito censuras nem acredito em
auto-regulações. A única via está do lado da
procura, não da oferta: haver cada vez mais
telespectadores que recusem a "baixaria",
não se limitando a dizer mal dela. É um
caminho longo, que começa a ser percorrido
entre nós.