Diário de Notícias - 29 Out 04
OCDE recomenda crédito fiscal
para famílias mais pobres
Trabalho a tempo parcial é
incentivado por relatório sobre cuidados com crianças
márcio alves candoso
A Organização para a Cooperação Económica e para
o Desenvolvimento (OCDE) recomenda ao Governo português que
implemente um sistema de crédito fiscal às famílias de baixos
rendimentos que não consigam cuidar dos filhos sem deixar de
trabalhar e aumente os abonos de família aos agregados com mais
baixos rendimentos. Este é uma das recomendações ontem feita em
Lisboa, durante a apresentação do estudo Babies and Bosses -
Políticas de Conciliação da Actividade Profissional e da Vida
Familiar.
O estudo aprova, em termos teóricos, o apoio estatal ao trabalho
parcial, de modo a que os pais possam estar mais tempo com os
filhos. No entanto, considera que, em Portugal, «a maior parte das
pessoas não pode suportar a consequente perda de salário». Para que
esta ideia criasse raízes «seria necessário que os pais portugueses
recebessem maiores retribuições pelo trabalho a tempo parcial». A
OCDE refere que o Governo de Lisboa deveria «reformular a factura
com os cuidados infantis», no sentido de os pais pagarem de acordo
com as horas de apoio à criança que realmente usam. O crédito fiscal
ocorreria, pelo contrário, se decissidem não trabalhar e ficar com
as crianças.
Uma outra hipótese avançada pela OCDE é um sistema de benefícios em
que seria distribuído um abono de família mais elevado às famílias
trabalhadoras de baixos rendimentos. Curiosamente, numa outra parte
do estudo, a OCDE refere como pouco fértil a «camada de mulheres de
40 anos com formação universitária na Suíça», o que parece uma
constatação de que não é nas classes com mais baixos rendimentos que
a natalidade está a decrescer mais rapidamente. No mesmo sentido, o
maior número de adolescentescom filhos pertencem á minoria Maori
neozelandesa.
A redução das barreiras «desnecessárias» ao emprego a tempo parcial,
mudando a estrutura dos pagamentos dos cuidados á criança, é outro
dos temas referidos pela OCDE. Exemplificando, a organização sugere
que o Governo deve canalizar os apoios à criança directamente para
os pais e «não para as instituições». Isto permitiria aos pais
escolherem o «número de horas e o tipo de cuidados aos filhos,
fazendo uma melhor utilização dos cuidados infantis existentes».
Ou seja, não se deve dar dinheiro a quem utiliza já os cuidados
infantis existentes, mas a quem tem filhos, independentemente de os
pais acorrerem a cuidados externos ou preferirem ficar eles próprios
a tomar conta das crianças. Destaque para a recomendação de
alargamento de período de direito ao subsídio de maternidade
A Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN) já veio
congratular-se com o relatório da OCDE. A APFN apoia especialmente a
recomendação de que as famílias possam ter oportunidade de escolher
qual o serviço mais adequado para o seu caso e, no caso de assim o
entenderem, poderem determinar que um dos membros do casal fique em
casa sem que tal prejudique o orçamento familiar.
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