Público - 28 Out 04
OCDE Diz Que Portugal Tem de Reforçar Apoio Aos Pais Que
Trabalham
Por
BÁRBARA WONG
Em Portugal,
duas em cada três mulheres trabalham e, destas, a grande maioria (85
por cento) fá-lo a tempo inteiro. Entre os casais, sete em cada dez
estão integrados no mercado laboral. A OCDE está preocupada e
recomenda que o Governo reforce as políticas de apoio às famílias. O
estudo "Babies and Bosses" traça o retrato de Portugal, Nova
Zelândia e Suíça.
Embora neste
último país a percentagem de mulheres trabalhadoras seja mais
elevada do que em Portugal, é cá que elas trabalham a tempo inteiro.
Quer as suíças quer as neozelandesas optam pelo trabalho a tempo
parcial, sobretudo depois de serem mães e nos primeiros anos de vida
dos filhos. Contudo, poucas portuguesas podem dar-se ao luxo de
fazer o mesmo, já que o seu vencimento é essencial para o equilíbrio
do orçamento familiar - 70 por cento dos casais portugueses
trabalham a tempo inteiro.
Segundo diz o
relatório, na Suíça apenas um em cada oito casais trabalha. Não é de
estranhar, já que se trata de um dos países mais ricos da OCDE, por
isso, um dos membros do casal pode suportar as despesas familiares.
As mulheres
suíças escolhem trabalhar em "part-time", assim como as
neozelandesas, mas por cá ainda não é muito comum; além disso, é
vulgarmente mal pago, acrescenta o estudo. Nos três países, as
mulheres recebem menos do que os maridos. Mas as portuguesas estão
mais bem posicionadas: recebem menos 20 por cento do que os
cônjuges. Na Suíça e na Nova Zelândia as mulheres têm salários
inferiores a 40 e a 60 por cento, respectivamente, em relação aos
dos maridos.
Depois de os
filhos nascerem, os pais nem sempre têm onde os deixar. "Babies and
Bosses" defende que os Estados apostem na criação de soluções para
que os pais possam regressar ao trabalho. Por cá, a grande
dificuldade com que os pais se confrontam é o custo deste serviço.
A OCDE aponta
que, em Portugal, o apoio às famílias se fica por 1,1 por cento do
PIB. E, embora existam algumas medidas, muitas famílias prescindem
delas para não perderem uma fatia do ordenado. Portanto, as medidas
sociais têm pouco impacto, sobretudo nas famílias com rendimentos
mais baixos.
A OCDE
recomenda que Portugal invista em mais e melhores cuidados para as
crianças, durante e após o período escolar. As famílias devem ter
oportunidade de escolher qual o serviço mais adequado para o seu
caso e, se quiserem, um dos membros do casal escolher ficar em casa,
sem que tal prejudique o orçamento familiar.
Por isso, o
relatório defende que o Governo subsidie directamente os pais, para
escolherem a melhor opção para os filhos, em vez de apoiar as
instituições. Quando o Estado opta pela segunda hipótese, como tem
vindo a fazer, a mensagem que passa é que os pais devem pôr os
meninos na creche ou no jardim de infância.
Apesar da
política de apoio às famílias ir no sentido de equilíbrio entre os
géneros, são as mães que continuem a beneficiar mais dessas
iniciativas. Em Portugal, em 2003, apenas entre 30 a 40 por cento
dos pais gozaram os 15 dias de licença de parto a que têm direito
por lei.
O estudo
sugere que o Estado apoie também as empresas, para que estas possam
propor horários mais flexíveis aos pais, de modo a que ambos os
progenitores possam gozar o crescimento dos filhos. Estado e
empresas devem ainda promover o trabalho a tempo parcial, dando-lhe
dignidade, de maneira a que mais pessoas possam optar por ele, sem
pôr em risco o orçamento familiar.
O "Babies and
Bosses" é um estudo do departamento de políticas sociais da OCDE e
vai no seu terceiro volume.
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