O ministro das Finanças, Bagão Félix, garantiu
esta sexta-feira, que a classe média não vai ser prejudicada pela
proposta de orçamento apresentada esta sexta-feira pelo Governo.
«Todos os portugueses beneficiam da descida das taxas do IRS»,
sublinhou o ministro, já que o vencimento é sempre tributado «em
escada».
Bagão Félix disse que a eliminação de alguns
benefícios fiscais (Plano Poupança Reforma/Educação, Planos Poupança
Acções, Contas Poupança Habitação e aquisição de acções em operações
de privatização) não vai prejudicar a classe média porque apenas
sete por cento dos contribuintes usufruíam dos mesmos. O ministro
desafiou o mercado: se estes planos são, de facto, bons não devem
ser adoptados pelas pessoas simplesmente por causa dos benefícios
fiscais. O ministro frisou ainda que Victor Constâncio, governador
do Banco de Portugal, assegurou que o fim destes benefícios «não
constitui um problema macroeconómico».
Quem tem razão para estar contente são as
mulheres à espera de bebé, já que a taxa do IVA das fraldas passa de
19 para cinco por cento. Esta é uma medida que Bagão Félix queria
ter feito passar enquanto ministro da Segurança Social, mas que só
agora tem oportunidade de fazer.
Já os fumadores que não estão dispostos a largar
o vício terão de pagar mais 20 cêntimos por cada maço de cigarros.
Mas o tabaco continua mais barato do que em Espanha, «por razões
óbvias», sublinhou o ministro.
O défice, como já tinha sido prometido, vai ficar
abaixo dos três por cento, mais concretamente nos 2,8 por cento. Mas
o Executivo terá de recorrer a medidas extraordinárias. Bagão Félix
não quis divulgar o que vai vender, mas garantiu aos jornalistas que
são «claras as vias», prometendo «não passar os problemas para o
futuro, nem diminuir o património do Estado».
Estes "analgésicos" - que o ministro tanto queria
evitar, diz - vão representar, em 2005, 1,4 por cento do PIB e Bagão
admite que terá de recorrer a estas medidas até 2007. A previsão
deste Governo é que em 2005 o PIB irá crescer 2,4 por cento e a
inflação rondará os dois por cento.
Fugir ao fisco
Quem tem motivos para ter medo do fisco é mesmo
quem foge aos impostos. Os "incumpridores" vão ser fiscalizados por
um novo "Corpo Especial de Elite" de combate à fraude e evasão
fiscal, que ficará directamente dependente do ministro das Finanças.
Esta nova medida não está incluída na proposta de Orçamento de
Estado, sublinhou Bagão Félix, mas será criada por lei orgânica do
Ministério das Finanças.
Agora é o contribuinte a provar que pagou
O ónus da prova inverte-se, ou seja, é o
contribuinte a provar que pagou quando há uma divergência de um
terço entre os rendimentos declarados e o acréscimo real de
património e consumo. «Basta folhear as revistas cor-de-rosa para
ver as belas casas de pessoas que não declararam rendimentos»,
exemplificou Bagão Félix.
E mesmo quem paga impostos será prejudicado
porque se receber uma factura falsa perde o direito à dedução. Todos
os contribuintes passam a ser solidariamente responsáveis com quem
emite a factura pelo pagamento do imposto. Aliás, o ministro
continua incrédulo com a forma sistemática com que se foge aos
impostos: «Quando vou a um restaurante perguntam-me: "Senhor
ministro, quer uma facturinha?..." Fiz obras em casa e
perguntaram-me: "Com IVA ou sem IVA?". Ou seja, quem diz que não
quer factura vai ser penalizado. E aqueles papéis que nos dão depois
das refeições - a que chamamos "talões" - vão mesmo ser proibidos,
já que não têm qualquer validade tributária».
O Orçamento de Estado é «mais solidário», por
beneficiar pessoas com rendimentos menores, mas simultaneamente
«mais severo»: havendo indícios concretos de incumprimento fiscal, o
Estado passa a poder verificar as contas do contribuinte sem o
notificar. Bagão rematou com uma promessa: «Não vamos maçar os
contribuintes cumpridores».
