Público - 13 Out 03
Trabalho (Ou Falta Dele)
Muito se tem dito sobre a educação nacional e a produtividade portuguesa.
Dizem ainda que existe uma correlação muito elevada entre elas, coisa que
eu não acredito.
A falta de instrução sentida em Portugal é tida como a responsável pela
nossa fraca produtividade. Não faço ideia de quem tenha sido o autor desta
infeliz ideia, mas sei que Portugal a adoptou apenas porque parece lógica,
e é... ou pelo menos parte dela.
É teoria da economia que o desenvolvimento de um país só pode ser
alcançado através de ganhos de produtividade. A produtividade depende do
trabalho que uma pessoa consegue realizar no seu horário de serviço. Quer
isto dizer que os nossos parceiros europeus com o mesmo horário de
trabalho produzem mais do que nós (portugueses). Portugal inteiro
justifica este facto através da falta de instrução e de meios tecnológicos
que temos.
Por não estarmos tão bem instruídos como os nossos parceiros europeus
temos dificuldade em nos adaptarmos aos novos tempos, ficamos fechados ao
conhecimento e alheios à tecnologia que tanta falta nos faz, e não
conseguimos lidar com ela.
Embora não discorde totalmente com essa visão, atrevo-me a avançar com
outra razão para a fraca produtividade em Portugal - a mentalidade de
trabalho portuguesa (ou falta dela). Quem é que nunca reparou no tempo que
uma ou outra pessoa demora na casa de banho? Ou no tempo que perde em
executar uma tarefa por mais simples que seja? Ou ainda na incapacidade
perceber como pode facilitar o seu modo de trabalho, diminuindo o seu
esforço e poupando tempo?
Será que a solução para estes problemas que afectam a nossa economia dia
após dia se resume à tecnologia, ou à instrução que não temos? Eu digo que
não... e atrevo-me ainda a dizer que Portugal tem uma mentalidade de
emprego e não de trabalho, ninguém quer perder o emprego mas se perderem o
trabalho já não se importam.
Portugal precisa de pessoas que estejam dispostas a trabalhar
independentemente do seu posto de trabalho. Incutir o espírito de
trabalhador nos portugueses é, portanto, não uma directiva prioritária,
mas a directiva prioritária.
De que serve sermos o país mais instruído do mundo se não temos uma
mentalidade de trabalho? Ou de termos toda a tecnologia disponível se
Portugal continuar a não querer trabalhar? É o trabalho a força motriz do
desenvolvimento, a vontade de trabalhar é o que distingue as economias
desenvolvidas das outras.
Como dizia Einstein "o único sítio onde o sucesso vem antes do trabalho é
no dicionário".
João Futscher
Lisboa |