Público - 5 Out 03

Mata Diz Que "Este Ano Nenhuma Escola Quer Ter Casos"
Por A.S.

Nos últimos dias andaram a pintar murais e a fazer panfletos e cartazes. E quando as primeiras aulas começaram, no início da semana passada, lá foram, com resmas de panfletos na mão distribuir informação "antipraxe" aos caloiros. Tiago, Marta, Ricardo e André têm entre 20 e 26 anos, são estudantes, e fazem parte do Mata - Movimento anti-"tradição académica", que há dez anos repete o ritual.

"Acho que as coisas estão a começar a mudar", diz Tiago. "Até porque este ano nenhuma escola quer ter casos. Aparecerem nos jornais associados a situações de violência atrapalha-os. É má publicidade", continua. Apesar dos abusos que foram sendo denunciados, sobretudo no último ano, Tiago está contra a proibição das praxes. A mudança tem de passar pelos estudantes e não por um despacho qualquer, diz. O que as escolas têm de fazer é dar a informação aos caloiros: não têm de ser sujeitos a rituais iniciáticos se não quiserem.

É também essa a mensagem do Mata (há outros grupos do género, no Porto e em Coimbra). Na passada segunda-feira a cena repetiu-se. Pela manhã, um grupo foi para a Faculdade de Ciências, para o meio do relvado onde os alunos do primeiro ano já se ajoelhavam, faziam flexões e corriam, às ordens dos mais velhos. Outro foi para o Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), também em Lisboa.

Os gestos não mudam muito: sacam dos panfletos de dentro de um saco de plástico e espalham-se pelo refeitório, pelos átrios e pelos corredores, à procura de alunos a quem passar as brochuras. "Será óbvio para todos que se pode dizer 'não quero', 'não gosto', 'não me apetece'?" - interroga-se um dos documentos feitos para a ocasião. Muitos ignoram-nos, limitam-se a largar a informação no primeiro caixote do lixo que encontram, outros vão lendo o papelinho, com ar curioso, a caminho das aulas.

WB00789_1.gif (161 bytes)