Público - 5 Out 03
Governo Vai Assegurar Bolsas de Estudo no Valor da Propina Máxima
Por ISABEL LEIRIA
Para compensar a subida das propinas, o Ministério da Ciência e do Ensino
Superior (MCES) decidiu aumentar o valor das bolsas de estudo. Estes
apoios passam a ter como valor de referência não um mas 1,3 salários
mínimos nacionais (463 euros), tal como acontece com a nova propina
mínima.
Mas como a recentemente aprovada lei de financiamento atribui às
instituições de ensino superior o poder de fixar uma taxa superior - até
um máximo de 852 euros -, a tutela garante também que atribuirá ao aluno
uma verba adicional, sempre que a bolsa não chegar para pagar as propinas.
Ou seja, na prática, a acção social escolar continuará a garantir o
pagamento da totalidade das propinas dos alunos carenciados a frequentar o
ensino superior público.
Este ano, o "complemento de propina" será entregue pelo MCES às
universidades e institutos politécnicos. Em 2004/2005, a transferência
poderá ser directamente para os alunos, explica Elsa Justino,
sub-directora geral do Ensino Superior.
Apesar de esta taxa poder sofrer um aumento entre 30 a 140 por cento, o
universo de estudantes que poderão ser apoiados não será, pelo menos para
já, alargado. De acordo com a legislação em vigor, apenas aqueles que
tiverem uma capitação mensal igual ou inferior ao salário mínimo nacional
podem receber uma bolsa. A capitação é calculada a partir do rendimento
per capita do agregado familiar, ao qual podem ser deduzidas despesas de
habitação, saúde e outras, dividido por 12 meses.
"Vai haver uma fasquia da população - aqueles que têm um rendimento pouco
superior ao salário mínimo nacional, mas que não recebem qualquer apoio -
a quem vai ser pedido um esforço complementar", admite Elsa Justino.
A mesma preocupação é expressa por Francisco Costa, um dos representantes
dos estudantes universitários no Conselho Nacional de Acção Social
Escolar. "A situação dos bolseiros pode estar salvaguardada. O grande
problema é a situação dos alunos que se encontram nos limites dos escalões
e que, por cinco euros a mais no seu rendimento familiar, não são
considerados carenciados. Estes é que vão sair ainda mais prejudicados."
Francisco Costa lembra ainda que este é um aumento da propina muito
significativo - "em vez de um, passa a cobrar-se cerca de dois salários
mínimos nacionais" - e que vai ter grande influência no orçamento das
famílias. No entanto, essa mesma despesa acrescida "não é utilizada para
calcular o rendimento per capita", lamenta.
Há 44 mil bolseiros
Actualmente, o Estado apoia cerca de 20 por cento da população escolar,
num total que ronda os 44 mil bolseiros. Para além da bolsa de referência,
os alunos, deslocados e não deslocados, podem ainda ser apoiados com
complementos de alojamento ou transporte, entre 25 a 35 por cento do valor
da bolsa.
A título de exemplo, refira-se que um bolseiro que se encontre no escalão
mais baixo (existem seis) receberá de bolsa de estudo 46,3 euros por mês.
Multiplicado por dez, o número de meses em que o estudantes é apoiado,
chega-se ao valor da propina mínima. O aluno que estiver no 1º escalão
terá direito a 367,3 euros mensais. Mas cada um deles será ainda
beneficiado com o tal "complemento de propina", que lhe permitirá pagar
uma eventual diferença entre o valor da bolsa e a propina cobrada na
instituição que frequentam.
Contas feitas, o orçamento global de acção social escolar passou de 132,3
milhões de euros para 145,8 milhões para este ano lectivo, num aumento de
10,2 por cento. |