Até quando será necessário deixar degradar o ensino
estatal (quase) monopolista para admitirmos que, sem
concorrência efectiva, as escolas do Estado não têm
estímulo para melhorar?
Discute-se regularmente entre nós se as novas
directivas centrais sobre a educação são ou não
adequadas. Infelizmente, discutimos pouco se são ou
não necessárias. Será necessário dizer a todas as
escolas como devem tratar as faltas dos alunos? Não
serão elas capazes de descobrir por si próprias como
tratar desse (e de outros) problema(s)?
A resposta provável, subjacente à defesa da
necessidade de um código central sobre as faltas,
será a de que, na ausência desse código, cada escola
praticaria o seu próprio código - e teríamos o caos.
Esta resposta, no entanto, não é plausível. As
escolas escolheriam o seu código, é certo. Mas essa
escolha não seria arbitrária. Se as escolas tivessem
de conquistar os alunos, elas escolheriam códigos
que produzissem os melhores resultados. Por
tentativa e erro, elas tentariam escolher os
melhores códigos. Caso contrário, perderiam a
preferência das famílias.
É por este motivo muito simples que as escolas
independentes em regra resistem às bizarras
inovações centralizadas dos chamados teóricos da
educação. A sobrevivência dessas escolas depende da
qualidade do ensino que ministram - essa é a
condição para serem preferidas pelas famílias. É
também por este motivo que as escolas independentes
- curiosamente lideradas pelas escolas católicas -
em regra ocupam os lugares cimeiros dos «rankings»
das escolas.
Esta liderança repete-se entre nós desde que os
resultados das escolas nos exames deixaram de ser
secretos. A mesma liderança das escolas
independentes, e, em muitos casos, também das
escolas católicas, ocorre há décadas noutros países
ocidentais. Os nossos guardiães do (quase) monopólio
estatal da educação inventam explicações para
contornar esta evidência. É um espectáculo pouco
inspirador: faz lembrar a defesa das economias
comandadas, quando já nada havia para comprar nas
chamadas “lojas do povo”.
Até quando será necessário deixar degradar o ensino
estatal (quase) monopolista para admitirmos que, sem
concorrência efectiva, as escolas do Estado não têm
estímulo para melhorar? E quanto mais tempo será
necessário para verificarmos que as maiores vítimas
da falta de concorrência são as famílias mais
desfavorecidas - as que não têm meios para fugir
para as escolas independentes? Até lá, é previsível
que continuemos a multiplicar planos centralizados,
alheios ao bom senso que resulta da interacção entre
a escola e as famílias.