Público - 24 Nov 06

Maioria PS aprovou reforma da Segurança Social

João Manuel Rocha

Medidas negociadas
na concertação social só receberam o apoio do partido do Governo

Com os votos favoráveis do PS e contra de toda a oposição, a Assembleia da República aprovou ontem a proposta de lei do Governo sobre as bases gerais do sistema de Segurança Social. Os projectos apresentados pelos partidos da oposição foram todos rejeitados pelos deputados socialistas, no final de um debate que não trouxe novidades sobre o sentido da reforma.
A proposta do Governo que cria um indexante para substituir o salário mínimo na actualização das pensões e de outras prestações sociais e estabelece regras para esses aumentos - uma das componentes da reforma da Segurança Social negociada pelo Governo com os parceiros sociais - também só foi aprovada pela maioria socialista, mas teve acolhimento diverso dos partidos da oposição: CDS e PSD abstiveram-se, as forças de esquerda votaram contra.
A reforma, que agora será discutida na comissão parlamentar especializada, tem como elementos essenciais a introdução da esperança de vida no cálculo das pensões, a contagem de todos os descontos feitos na carreira e a ligação dos aumentos anuais de pensões ao comportamento da economia. Para além disso agrava a penalização por reforma antecipada e cria um regime de contas individuais para onde serão encaminhadas as poupanças suplementares que os trabalhadores possam fazer.
As bases gerais da Segurança Social mantêm um preceito já antes previsto: a possibilidade de introdução de limites contributivos - o chamado plafonamento - , uma situação que o Governo não considera mas diz manter na lei "por respeito democrático" para com executivos de outras orientações políticas.
"Há quem não entenda as dificuldades presentes do sistema. Não pudemos recolher aqui os apoios que julgávamos que uma reforma desta natureza mereceria", lamentou, no final do debate, o ministro do Trabalho e Solidariedade Social, que antes definira as mudanças como uma reforma "que não deixa cada um entregue a si ou aos mercados".
Na apresentação das propostas, Vieira da Silva afirmou que se nada fosse feito para compensar os défices que se verificariam em 2015, nessa altura, "teríamos que escolher entre cortar" em 14 por cento as pensões "de todos os pensionistas, ou aumentar para 39 por cento a taxa contributiva para a segurança social [actualmente em 34,5]". E em 2030, acrescentou, "aquele corte nas pensões já teria que se aproximar dos 30 por cento".
Para Luís Pais Antunes, do PSD, partido que defende o sistema misto, conjugando o sistema público existente com a capitalização (aplicação financeira de parte dos descontos), o Governo está a insistir "num modelo que está condenado a prazo" e a actual reforma "é uma oportunidade perdida".
O PCP, que tal como o BE propôs um reforço da contribuição das empresas, acusou o Governo de querer a sustentabilidade da Segurança Social à custa da redução das pensões. O CDS/PP, que defende um regime de plafonamento, em que, dependendo do nível salarial, os trabalhadores possam escolher entre permanecer ou sair do regime público de Segurança Social, entende que a solução do Governo se resume a uma de três escolhas: descontar mais, trabalhar mais tempo ou receber pensão mais baixa.