Público - 3 Nov 06

Associação reivindica menor intervenção médica nos partos

 

Casal com dez filhos criou a Humpar para defender a "dignidade da mulher" que dá à luz nos hospitais

 

O parto hospitalar prejudica a "dignidade humana" da mulher e a sua humanização passa por menos intervenção médica e mães mais preparadas para o nascimento natural, defende a Humpar, associação recente cujo primeiro congresso se inicia hoje.
Nascida em Janeiro deste ano, a Humpar (Associação Portuguesa pela Humanização do Parto) resultou da experiência de parentalidade de um casal, Américo e Cristina Torres, a quem o nascimento da sétima filha, há seis anos, fez compreender que algumas das práticas hospitalares no momento do parto não estavam de acordo com as suas expectativas enquanto pais.
Entre hoje e domingo, a Humpar organiza, em Almada, o I Congresso Internacional Humanização do Nascimento - Amor e Responsabilidade, onde esta problemática vai ser debatida por especialistas nacionais e estrangeiros.
Actualmente com dez filhos, o penúltimo dos quais nascido em casa, o casal decidiu constituir a Humpar após uma recolha de informação na Internet.
Segundo Américo Torres, existem hoje procedimentos no parto hospitalar que "prejudicam a dignidade humana da mulher que vai ser mãe", como ter a sua roupa substituída por uma bata que não é possível fechar atrás das costas, rapar os pêlos púbicos ou fazer um clister antes do parto. "O parto, sendo um acto fisiológico, não necessita de intervenção médica excepto em casos raros", defende.
A perspectiva da Humpar é, para Luís Graça, presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos, "completamente desenquadrada do que é a prática normal e comprovada" desta especialidade. "Concordo com a humanização da medicina, mas não com os parâmetros que defende" a Humpar, especificou Luís Graça. Como exemplos do que preconiza, refere a "presença do pai [no nascimento], a epidural universal - humanizar o trabalho de parto é tirar a dor à parturiente - e a garantia de todas as condições de monitorização e higiene".
Já Jorge Branco, director da maior maternidade do país, a Alfredo da Costa, em Lisboa, admite que o grau de humanização do parto preconizado pela Humpar "não é possível ainda" em Portugal, mas acredita que algumas práticas defendidas pela associação poderão obter o aval dos obstetras "quando se verificar que não há aumento do risco" para a parturiente e o bebé.
Relativamente ao aumento do número de nascimentos fora dos hospitais, o especialista mostra-se, porém, céptico. Essa prática "vai ser sempre [realizada por] uma pequena franja" da população. "É difícil, neste momento, o parto deixar de ser hospitalar, porque era arriscado", sustenta. Na Alfredo da Costa, nota ainda, já se mudaram instalações para compatibilizar "a humanização do parto com a segurança" e a filosofia é a da menor intervenção médica possível. Público/Lusa