Diário de Notícias - 3
Nov 06
Portugueses pagam
1300 milhões em IVA sobre outros impostos
Diana Mendes
A cobrança de IVA sobre outros impostos indirectos
vai custar 1300 milhões de euros aos portugueses em
2007. Os cálculos são de um grupo de fiscalistas e
cidadãos que consideram a dupla tributação
"inconstitucional e imoral". A cobrança de IVA sobre
outros impostos indirectos, como o automóvel, está
prevista num artigo do Código do IVA. O grupo de
cidadãos apelou em Setembro à declaração da sua
inconstitucionalidade.
O grupo citou o exemplo dos combustíveis, que os
portugueses pagam já com o imposto sobre produtos
petrolíferos (ISP). O que criticam é o facto de
ainda pagarem IVA sobre esse custo. Pagam um imposto
sobre o combustível e sobre o próprio ISP.
Na contas dos juristas, e tendo por base as
previsões do Orçamento de Estado de 2007, os
cidadãos vão pagar 3395 milhões de euros em ISP. Mas
ainda terão de desembolsar 713 milhões em IVA
cobrado sobre esse valor. Ao imposto sobre
combustíveis juntam-se outros, como o Imposto
Automóvel, tabaco, álcool e bebidas alcoólicas. As
contas passam a subir aos 1300 milhões de euros em
2007.
Numa carta enviada em Setembro ao Provedor da
Justiça, Nascimento Rodrigues, os peticionários
afirmam que esta dupla tributação era injusta,
apesar de "não ser ilegal". Segundo o artigo 16.º,
número 5 do Código do IVA, "os impostos, direitos,
taxas e outras imposições, com excepção do próprio
imposto sobre o valor acrescentado", estão sujeitas
a IVA. "Quando percebemos que estavam a ser cobrados
impostos sobre outros impostos considerámos que era
algo imoral. Mas depois de alguns dos juristas do
grupo terem analisado a legislação, perceberam que
era um caso de inconstitucionalidade", afirmou ao DN
o professor Paulo Morais.
O ideal seria a "cobrança de apenas um imposto
nestes casos mas, no mínimo, o IVA deveria incidir
apenas sobre o preço-base do produto, sem incluir o
imposto indirecto". Estes 1300 milhões estão a "ser
extorquidos aos cidadãos. Se a norma fosse
considerada inconstitucional, só a gasolina baixaria
10%", concluiu.
A Provedoria da Justiça recebeu a carta no dia 15 de
Setembro, mas "ainda não há uma data definida para a
conclusão do processo", disse ao DN fonte oficial.
"A carta está a ser analisada pela área de assuntos
fiscais e, depois, vai seguir para a área de
assuntos constitucionais. Aí vai ser decidido se
segue ou não para o Tribunal Constitucional."