Omaior desafio que se coloca hoje a Portugal
é a necessidade de alteração da qualidade e
do nível de exigência nas nossas escolas.
Do último relatório da OCDE sobre a educação
este é o gráfico que mais impressiona. Ele
revela Portugal isolado no quadrante
superior esquerdo, numa situação única, não
comparável com nenhum outro país. [ver
quadro em cima]
No espaço económico mais desenvolvido,
Portugal tem a maior percentagem de jovens
dos 20 aos 24 anos com baixos níveis de
escolarização e que abandonaram o sistema de
ensino, e simultaneamente é um dos países
com mais baixa percentagem de jovens da
mesma idade a estudar.
Esta singularidade resulta de, todos os
anos, milhares de jovens abandonarem a
escola sem a escolaridade obrigatória ou com
o ensino secundário incompleto. O gráfico
permite ver a dimensão do problema da
educação no nosso país e da urgência de uma
intervenção sem hesitações.
No mercado de trabalho, aos adultos de
outras gerações com baixas qualificações por
falta de oportunidade de acesso à escola,
juntam-se todos os anos jovens nascidos
depois do 25 de Abril para quem o acesso à
escola não se transformou numa verdadeira
oportunidade.
Isto, apesar de nos últimos anos o país
estar a fazer um enorme esforço de
investimento na educação, esforço maior
ainda se considerarmos que o número de
alunos tem vindo a diminuir e o investimento
em educação tem aumentado sempre, em valores
absolutos e em valores relativos, passando
em 10 anos de 3,5 para 6,0 mil milhões de
euros.
Portugal tem revelado genuína vontade de
melhorar o sistema de ensino: aumento do
número de professores para o apoio a alunos
com necessidades especiais de aprendizagem
(professor para cada 4 alunos); melhoria do
estatuto sócio-económico e profissional dos
docentes, bem como das condições de
progressão na carreira (cerca de 45% dos
professores estão nos últimos escalões da
carreira auferindo entre 2000 e os 2800
euros); investimentos significativos na
valorização profissional através da formação
contínua e especializada de professores (nos
últimos seis anos investiram-se mais de 300
milhões de euros na formação contínua de
professores, sendo muito largas as ofertas
formativas e as oportunidades de formação).
No nosso país, a despesa por aluno, tendo em
conta o PIB per capita, é a maior dos países
da UE, quer dizer, que sendo Portugal um dos
países mais pobres faz um investimento
equivalente a países mais ricos.
Todavia, a este esforço financeiro não tem
correspondido uma melhoria dos resultados.
As séries estatísticas revelam que nos
últimos dez anos as taxas de insucesso se
mantêm em níveis muito elevados:
anualmente15 por cento dos alunos abandonam
o ensino básico sem o concluir e, ao nível
do secundário 35 por cento dos alunos
abandonam no 10.º ano e 50 por cento no 12.º
ano.
Apesar da melhoria do rácio do número de
alunos por professor, do aumento dos apoios
educativos e da valorização das competências
e qualificações dos professores, o insucesso
persiste e ao nível dos resultados obtidos
não se registam melhorias correspondentes.
Vários relatórios nacionais e internacionais
têm apontado para a existência de problemas
de diferente natureza:
1) Ao nível sistémico e organizacional são
apontados o excessivo centralismo do sistema
de ensino e défice de autonomia das escolas,
o défice de actividades de acompanhamento e
enquadramento de alunos, o défice de
envolvimento e trabalho de docentes ao nível
do estabelecimento, o défice de
acompanhamento e supervisão de aulas e do
correspondente controlo da qualidade do
ensino.
2) Ao nível sócio-económico é apontado o
quadro de enorme desigualdade social, a
extrema heterogeneidade dos alunos e das
escolas nesta matéria, bem como o défice de
acesso a recursos sócio-educativos e
culturais dos nossos alunos.
3) Ao nível do desenvolvimento curricular
são apontadas questões relacionadas com a
excessiva dimensão e desajuste de programas
e instrumentos de ensino e aprendizagem e
ausência de articulação entre as condições
de ensino e os mecanismos de controlo
externo, designadamente os exames nacionais.
É muito importante que no interior das
escolas, mas não só, se abra um debate sobre
estas questões. Que os relatórios de
avaliação e documentos de diagnóstico sejam
efectivamente lidos e divulgados para que
possamos todos reflexivamente encontrar e
concretizar soluções.
A escola a tempo inteiro e o enriquecimento
curricular e extracurricular do primeiro
ciclo, a reorganização da rede de escolas e
a melhoria das instalações, a ocupação plena
dos tempos escolares, a valorização das
competências científicas dos professores, a
melhoria das condições de trabalho e de
ensino, a valorização da gestão e da
autonomia das escolas, colocam a escola no
centro da política educativa.
Este é o desafio do país e o compromisso do
Governo para a legislatura, por isso todos
os dias têm de ser ganhos para inverter a
situação. Ministra da Educação