Público - 11 Nov 05
Autoridade da Concorrência
Dificuldades na aquisição de medicamentos geram
denúncias
Joana
Ferreira da Costa
Organismo recebeu 20 reclamações telefónicas, a maioria
de comerciantes que querem vender remédios sem receita mas
não conseguem
A Autoridade da Concorrência (AdC)
recebeu no último mês cerca de 20 chamadas telefónicas, a
maioria de comerciantes que pretendem vender medicamentos
não sujeitos a receita médica, mas que têm tido dificuldades
em adquirir os remédios nos armazenistas e nos laboratórios.
As denúncias foram feitas para a linha telefónica criada
pela AdC especificamente para receber reclamações em relação
a fornecimentos destes produtos, que desde Setembro podem
ser vendidos fora das farmácias.
Às dificuldades de abastecimento dos lojistas que tentam
entrar no negócio - e que já estão a ser investigadas pela
AdC - juntam-se as do único hipermercado a vender estes
remédios, o Continente de Loures. Ontem, um dos fornecedores
da grande superfície da Sonae afirmou ao Diário Económico
que desistiu de abastecer o Continente, devido às pressões e
ameaças a que foi sujeito pelas farmácias suas clientes.
"Tive problemas com as farmácias e algumas deixaram de nos
comprar", admitiu o proprietário da empresa Botelho &
Rodrigues, Mário Cajada, que ontem recusou prestar mais
declarações sobre o assunto. Também a Sonae, contactada pelo
PÚBLICO, negou-se a fazer qualquer declaração, remetendo
"informações para momento oportuno".
Na origem do problema estará uma posição de força tomada
pelo sector das farmácias, que em Setembro perdeu o
monopólio da venda destes produtos. Alguns dos
distribuidores de medicamentos - sector controlado em 65 por
cento por cooperativas farmacêuticas - estarão também a
dificultar o abastecimento aos lojistas que tentam entrar no
mercado. Esta recusa está sobretudo "centrada na Alliance
UniChem", distribuidora adquirida pela Associação Nacional
das Farmácias (ANF) e pelo Grupo Mello. "Uma atitude que
viola a lei, já que nenhum grossista se pode recusar a
vender medicamentos aos estabelecimentos licenciados",
grarantiu ao PÚBLICO fonte do sector armazenista.
O responsável da Alliance UniChem, Jorge Simões, refuta as
acusações, garantindo que "a empresa cumpre a lei" e
acrescentando que, entre os seus "1800 clientes, a maioria
são farmácias, mas há também parafarmácias".
O Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento diz que
irá verificar esta situação através do Observatório do
Medicamento, que mensalmente analisa o comportamento do
mercado.
Apesar de os lojistas poderem comprar medicamentos
directamente aos laboratórios, na prática esta aquisição é
inviável. "Os laboratórios fazem preços mais elevados aos
lojistas, que compram em pequenas quantidades e não podem
beneficiar dos descontos feitos aos armazenistas", adiantou
fonte do sector.
Neste momento, o Continente de Loures não tem concorrentes
na venda destes remédios, mas os restantes operadores da
grande distribuição já anunciaram que lhe seguirão as
pisadas, apesar das dificuldades que vão encontrando.
O presidente da Associação Portuguesa de Empresas de
Distribuição (APED), Luís Vieira e Silva, que representa os
hipermercados, admitia em declarações prestadas à Lusa que
algumas das suas associadas têm reportado "práticas de
não-execução de negócios", mas que não houve queixas
formais. "Há delongas nas negociações" por parte dos
laboratórios na concretização de acordos, concluiu o
responsável. com Dulce Furtado
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