Perguntam-me porque não escrevi
ainda sobre a intifada em França. A razão é
simples tirando algumas ideias de sociologia barata
(efeitos do desemprego, imigrantes a viverem em
guetos, desenraizamento da segunda geração, etc.),
pouco de construtivo tenho a dizer. Todos dão por
enterrado o modelo francês de assimilação. O Estado
promete ali aos imigrantes igualdade perante a lei.
Mas tal não impediu a exclusão social e racial.
Só que os outros modelos de integração não parecem
melhores. Como escreveu o director do DN, "o drama
desta Europa envelhecida é que precisa da imigração,
mas não a sabe, ou não a quer, integrar". O modelo
britânico permite ampla liberdade cultural às
comunidades imigrantes - nada de proibir véus
islâmicos, por exemplo. Mas recordem-se os atentados
terroristas em Londres, realizados por gente
relativamente integrada e bem sucedida na sociedade
britânica. Ou a famosa tolerância da Holanda, que
virou ódio ao estrangeiro. Ou, ainda, as limitações
do melting pot americano, evidenciadas pelo
furacão Katrina.
No caso francês não ajudou um Presidente com queda
para a demagogia. Nem a desunião no interior do
Governo, com o primeiro- -ministro Villepin e o
ministro do Interior Sarkozy rivalizando para
sucederem a Chirac. Como também não ajudou o
paternalismo francês que vê nos desordeiros meras
vítimas do sistema e não cidadãos responsáveis. Os
imigrantes têm de aceitar as leis e os valores
básicos do país que os acolhe. Mais importante, o
individualismo egoísta predominante dificulta que se
encarem os problemas da sociedade e tende a tornar
invisíveis as pessoas que com eles sofrem. Isto sem
falar da desumana exploração de que são alvo muitos
imigrantes, sobretudo os ilegais, em Portugal
nomeadamente. A culpa não é só dos políticos.