Público - 7 Nov 05

Ter uma licenciatura não é um passaporte para o desemprego

Por razões demográficas e também de insucesso escolar no ensino básico e no secundário chegam menos alunos ao superior. A solução passa por abrir as portas a públicos adultos. A tutela já aprovou cerca de 70 cursos pensados para eles

Este ano ficaram alguns milhares de vagas por preencher no ensino superior. Tem defendido que a solução passa por atrair novos públicos. Quem são e o que devem fazer as instituições para atraí-los?
A esmagadora maioria dos alunos estão colocados, o que acontece é que há menos à entrada do ensino superior do que há anos. Durante a fase de expansão do ensino superior as instituições foram muito insensíveis a públicos mais velhos, mas agora precisamos que olhem para esses novos públicos.
Como é que se captam esses adultos, que à partida já estão a trabalhar?
O problema não é como é que se podem captar, mas como é que as instituições podem adaptar-se à procura. Portugal não é diferente dos outros países, onde existem pessoas que voltam a estudar. É preciso que os cursos, horários e currículos sejam adaptados.
A forma de acesso também precisa de ser alterada?
Já está alterada. O sistema de acesso que existia previa os exames ad-hoc, que eram de Literatura Portuguesa. Dos 20 mil candidatos que concorriam sobravam dois mil que iam fazer os exames específicos para o curso que queriam. Era razoável? Não, os exames eram um funil social.
Faltam licenciados em Portugal, mas uma grande fatia dos desempregados (cerca de 40 mil) são jovens recém-licenciados.
Não é uma grande fatia, é pequeníssima. A melhor garantia de emprego é precisamente ser licenciado. Quanto mais habilitações se tem, menor é a probabilidade de se ficar desempregado. Há uma ideia errada que é: ter uma licenciatura é um passaporte para o desemprego. Isso é mentira. É preciso ter qualificações. Há pessoas que não encontram logo emprego e em certas zonas do país o mercado de trabalho está muito atrasado e a recrutar pessoas com baixíssimas qualificações, mas se não houver pessoas com mais não haverá um tecido económico mais qualificado.
A anterior titular da pasta [Maria da Graça Carvalho, do PSD] criou um programa que previa a reconversão dos licenciados, de maneira a poder integrá-los no mercado de trabalho. Como é que está esse programa?
Mal. Era um programa que encontrei sem execução, sem início e com muitos jovens que tinham saído dos centros de emprego e não estavam a receber qualquer bolsa, como previsto. O que fiz foi pô-lo a funcionar. Mas não acho que responda às necessidades.
Tem alguma alternativa?
É absolutamente indispensável um programa sério de estágios profissionais dos estudantes que estão no superior. Mas o principal problema do ensino superior em Portugal não é esse. O principal é o dos adultos que deviam estar no ensino superior e não estão.
Como podem ingressar?
Através dos cursos de especialização tecnológica no ensino superior . Foram aprovados cerca de 70, que vão entrar em funcionamento. São formações curtas a que se pode ter acesso fácil.

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