Público - 6 Nov 05

"Os alimentos tornaram-se inimigos"

 

A naturalidade em relação à alimentação "perdeu-se". A comida deixou de "servir só para prazer e subsistência" e instalou-se "um medo de que nos provoque alguma doença - os alimentos tornaram-se inimigos". Foi o que defendeu ontem o endocrinologista Lima Reis, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Nutrição e Alimentação Humanas, no IX Congresso Anual da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, que decorreu em Lisboa.
Esta atitude é, na opinião de Lima Reis, "preocupante", porque denota que "as pessoas não encaram a morte com naturalidade". Os alimentos passam assim a ser funcionais, servem para alguma coisa e são vistos como tendo fins "farmacológicos" e "terapêuticos" - por exemplo, para baixar o colesterol, para prevenir o aparecimento de úlceras.
Quem tira proveito desta nova forma de encarar a comida é a indústria alimentar, criando produtos que tentam captar a atenção para características que supostamente fazem bem à saúde, como por exemplo o leite com mais cálcio.
Lima Reis critica ainda o fundamentalismo de quem começa a defender que na ementa de um restaurante passe a constar o valor calórico e componentes de cada prato. "Trata-se de um extremar de posição insustentável", referiu na sua comunicação, intitulada Dietas: passado, presente e futuro. O acto de comer apela "ao prazer e à satisfação dos sentidos"; caso contrário, torna-se "a alimentação num calvário", afirma.
"Na comida não há anjos e demónios, depende do uso que se lhe der. Posso fazer uma alimentação equilibrada comendo de tudo". O endocrinologista defende que o caminho para travar os níveis de obesidade crescente passam pelo aumento do exercício físico; não por proibir certos alimentos mas por dar mais informação sobre o que deve constar de uma alimentação equilibrada, que deve incluir 20 por cento de proteínas, 20 por cento de lípidos e 50 por cento de hidratos de carbono. C.G.

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