Público
- 6 Nov 05
E quando as taxas de juro subirem?
Na década de 90 o acesso ao crédito tornou-se mais fácil e vantajoso para um
número crescente de famílias. Isso não significou que as instituições bancárias
aceitassem situações extremas em termos de taxa de esforço; mas o nível de
endividamento não pára de subir.
A taxa de juro de referência fixada pelo Banco Central Europeu (BCE) está a um
nível historicamente baixo (dois por cento). Mas a inflação está acima da "meta"
estabelecida pelo BCE.
Nos seus últimos discursos, Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, deixa
entender que é provável que a subida da inflação obrigue a um aumento das taxas
de juro. O que implica uma subida da Euribor, a taxa a que os juros do crédito à
habitação são indexados.
Deste modo, é provável que as prestações mensais dos créditos à habitação venham
a subir. Se tal acontecer, Natália Nunes, da Deco, considera que é possível que
as famílias sintam maiores dificuldades.
"Muitas famílias portuguesas estão endividadas para lá dos 40 por cento do seu
rendimento, o patamar considerado como máximo aceitável", o que diminui a sua
capacidade para fazer frente a um cenário de aumento do preço do dinheiro.
Catarina Frade, investigadora do Observatório do Endividamento dos Consumidores
(OEC), considera que a reacção "vai depender muito do grau de endividamento das
famílias". De acordo com a investigadora, "não se espera uma subida muito
abrupta, mas mesmo pequenos aumentos podem determinar o sobreendividamento".
Catarina Frade explica que "para muitas famílias , ter um terço do seu orçamento
afectado ao pagamento de créditos pode ser uma situação excessiva". Basta para
isso que o total dos seus rendimentos seja, por si só, baixo.
"Consoante o nível de endividamento, a margem de manobra, a capacidade de
aumentar os rendimentos (trabalhando horas extra, por exemplo), assim a família
vai sentir mais ou menos o impacto da subida", explica a investigadora do OEC.
M.P.