Público - 5 Nov 05
Grupo de
trabalho diz que pais precisam de formação na área da
educação sexual
Bárbara Wong
Relatório de Daniel Sampaio rebate algumas ideias
atribuídas aos encarregados
de educação
Não são só os alunos - também os pais
precisam de ser esclarecidos no âmbito da educação sexual. É
o que diz o relatório do Grupo de Trabalho para a Educação
Sexual em Meio Escolar, divulgado na quarta-feira no
Ministério da Educação, em Lisboa.
O relatório (www.dgidc.
min-edu.pt/EducacaoSexual) foi encomendado pela ministra da
Educação, Maria de Lurdes Rodrigues depois de, em Maio, um
grupo de encarregados de educação denominado Movimento de
Pais (Move) ter lançado um abaixo-assinado contra o ensino
de matérias ligadas à educação sexual e à actuação da
Associação para o Planeamento da Família nas escolas; exigiu
mesmo um pedido de desculpas aos pais cujos filhos foram
submetidos a programas de educação sexual.
Também o Movimento Associativo e Federativo de Pais e
Encarregados de Educação (Mafpais), que representa cerca de
uma centena de associações de pais, enviou cartas à ministra
da Educação a pedir esclarecimentos sobre o mesmo tema. Na
altura, a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap),
que reúne mais de 1600 associações, também emitiu um parecer
sobre a necessidade de essa área ser trabalhada nas escolas.
O grupo de trabalho de Daniel Sampaio - que defende a
obrigatoriedade da criação, do 1.º ao 9.º ano, de uma área
de educação para a saúde onde a educação sexual seja
incluída - ouviu a Confap e o Mafpais, antes de se
pronunciar sobre o tema. No relatório aponta que a maioria
das pessoas ouvidas são a favor de que a abordagem à
sexualidade seja feita numa perspectiva mais lata. A "grande
excepção a esta posição são alguns grupos de pais", que
consideram que a escola deve ocupar-se apenas das questões
biológicas porque a parte relacional deve ser
"responsabilidade exclusiva da família", revela o relatório.
Para o grupo de trabalho, esta posição "talvez reflicta um
desconhecimento da evolução científica e pedagógica da
última década". A intervenção não passa apenas pelas
questões biológicas, deve ser mais global. É que a
informação é importante mas não chega para mudar atitudes,
defendem os relatores.
"Falta de preparação"
O grupo de trabalho entende que esta posição dos pais
"parece reflectir" a ideia de que o falar-se de sexualidade
é sinónimo de um início precoce das relações sexuais - e as
investigações das últimas décadas provam o oposto, aponta o
relatório.
Esta contradição entre o que pensam os encarregados de
educação e o que diz a investigação "sugere uma
compreensível falta de preparação técnica e científica por
parte dos pais e alguma desconfiança face à competência dos
professores", continua o texto. O grupo de trabalho sugere,
por isso, uma acção formativa junto dos pais.
Para o grupo de Daniel Sampaio é importante envolver a
família no desenvolvimento desta nova área, que deverá
chegar a algumas escolas ainda durante este ano lectivo.