Público - 25 Nov 03

O Seropositivo Típico no Luxemburgo Fala Português
Por J.F.C.

Quase um quinto dos novos casos de infecção com o HIV no Luxemburgo são registados na comunidade portuguesa, que representa 13 por cento da população do país e 36 por cento dos estrangeiros que aí residem. A maioria foi infectada através de relações sexuais e de seringas, já que os portugueses representam 45 por cento dos toxicodependentes naquele país. Os clínicos luxemburgueses estão preocupados com os riscos de discriminação desta comunidade e com a forma de lhe levar a mensagem da prevenção.

Há mais de um ano que as autoridades portuguesas foram alertadas para o problema: não só o número de emigrantes infectados com o vírus da sida no Luxemburgo é assustador, como a maioria deles só fala português, o que representa uma dificuldade acrescida para os serviços de saúde. "Ainda não houve uma resposta oficial [das autoridades portuguesas], mas tenho conhecimento de que o problema está a merecer a atenção da Comissão Nacional de Luta contra a Sida", afirmou ontem Jean Claude Schmit, médico do Centro Hospitalar do Luxemburgo que coordenou o primeiro estudo sobre a incidência de casos de sida entre a comunidade portuguesa.

Os dados finais deste trabalho - ontem apresentados no Estoril no IV Workshop de Infecção HIV - "Integração sem fronteiras" - são ainda mais preocupantes quando comparamos a incidência do HIV entre os portugueses e os
luxemburgueses. Dos novos casos de infecção registados em 2002 (542), 189 são luxemburgueses e 71 portugueses. Ou seja, enquanto os luxemburgueses têm 30 casos de infecção por milhão de habitantes, a comunidade portuguesa tem 167.

A estes dados juntam-se outras agravantes, explicou ontem Jean Claude Schmit: há uma enorme resistência dos portugueses em fazerem o teste da sida, a comunidade lusa tem um baixo estrato sociocultural (80 por cento dos trabalhadores são mão-de-obra não qualificada), um elevado número de toxicodependentes (45 por cento dos utilizadores de drogas injectáveis são portugueses) e uma barreira linguística e cultural. "Precisamos de intérpretes de português nos serviços médicos e de fazer chegar a mensagem da prevenção a esta comunidade", alertou o clínico.

Mas há ainda outras suspeitas: uma parte importante destes emigrantes poderá ter-se infectado em Portugal - já que subtipos do HIV-1 que caracterizam a realidade nacional, como o G, representam 18,3 por cento dos casos analisados no Luxemburgo.

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